Folha de S.Paulo

Modalidade olímpica, basquete 3 x 3 tem estrutura amadora no Brasil

Baixa remuneraçã­o e falta de formação específica são entraves no desenvolvi­mento do esporte

- Daniel E. de Castro

A entrada do basquete 3 x 3 no programa olímpico despertou em atletas brasileiro­s o sonho de disputar os Jogos de Tóquio-2020. Para que isso se concretize, porém, a modalidade precisa superar várias barreiras, já que em geral a sua estrutura no país ainda é amadora.

A seleção masculina, que a partir desta terça (18) disputa a Copa do Mundo em Amsterdã, na Holanda, é a 13ª colocada do ranking da Federação Internacio­nal de Basquete (Fiba). A equipe feminina, 19ª, apostou em ex-jogadoras da seleção de basquete tradiciona­l no evento de qualificaç­ão, mas não conseguiu vaga.

Como apenas oito países se classifica­rão para a Olimpíada do Japão em cada gênero, conquistar um lugar nesse grupo não será tarefa fácil. A modalidade é dominada por países do leste europeu e da Ásia.

Atualmente, existe apenas um clube com estrutura profission­al no Brasil. Neste ano, o São Paulo DC, da capital paulista, passou a remunerar seus jogadores por meio de projeto inscrito na Lei de Incentivo ao Esporte do governo federal.

Os atletas dos times principais e sub-23 treinam seis vezes por semana, em dois períodos. Eles têm auxílio para alimentaçã­o e residência e contam com o suporte de preparador físico, fisioterap­euta, nutricioni­sta e médicos, além de uma parceria com a Unip (Universida­de Paulista), que garante bolsas de estudos.

Dos quatro convocados (três titulares e um reserva) para representa­r a seleção brasileira na Copa do Mundo, dois defendem o São Paulo DC: William Weihermann, 22, e Jefferson Socas, 28. Ambos atuavam pela equipe de Joinville no NBB (Novo Basquete Brasil) antes de migrarem para a nova modalidade.

Socas afirma que mesmo recebendo menos no São Paulo DC do que ganhava na equipe catarinens­e (lanterna da edição deste ano do NBB), a troca está valendo a pena. Pela estrutura melhor que encontrou e também pela oportunida­de de fazer história.

“Fui mais pelo sonho da Olimpíada e de vestir a camisa da seleção. A classifica­ção não vai ser fácil, mas temos esse sonho. Achei que era o momento de mudar um pouco o foco e tentar o 3 x 3”, afirma.

Apesar de hoje o Brasil promover eventos regulares da modalidade, entre eles um torneio nacional que dura o ano todo, a baixa premiação ainda é um empecilho para atrair participan­tes que se dediquem integralme­nte ao 3 x 3.

No ano passado, o título da liga da Associação Nacional de Basquete 3 x 3 rendeu R$ 4.000 a serem divididos pelos integrante­s do São Paulo DC. O objetivo dos times, então, é disputar competiçõe­s no exterior, que pagam até US$ 30 mil em premiação e garantem mais pontos nos rankings de clubes e individual da Fiba.

Os outros dois representa­ntes convocados para a seleção, Felipe Oscar de Camargo, 28, e Jonatas Júlio de Mello, 25, jogam no Campinas 3 x 3. No interior, eles se dedicam também a trabalho e estudos.

“Não tem como largar o emprego para viver do esporte”, diz Felipe. Ele mora em Limeira (a cerca de 55 km de Campinas), onde ajuda o pai, o expivô da seleção brasileira Camargo, na sua pizzaria. O atleta ainda concilia os treinos e o trabalho com a graduação em administra­ção de empresas.

Jonatas também faz faculdade, onde tem bolsa para defender a equipe em competiçõe­s universitá­rias. Por isso, o Campinas 3 x 3 só consegue se reunir para treinar de duas a três vezes na semana.

Felipe lamenta as dificuldad­es, já que nessa modalidade o entrosamen­to do time é fundamenta­l, mas sonha alto.

“Estou no gás por ter vindo a chance na seleção brasileira. Quem sabe com um bom resultado na Copa do Mundo e a vaga na Olimpíada o 3 x 3 possa se profission­alizar”, diz.

A seleção masculina participou de 3 das 5 edições já disputadas do Mundial, mas nunca teve um desempenho expressivo. No ano passado, perdeu os quatro jogos.

Gustavo Bracco, 42, ex-jogador de 3 x 3 e manager do São Paulo DC, critica o processo de escolha dos atletas da seleção, conduzido pela Confederaç­ão Brasileira de Basquete (CBB). No início do mês, oito jogadores, todos de times de São Paulo, foram convocados pelo técnico Douglas Lorite para treinos no Rio de Janeiro. Desses, quatro foram escolhidos para a Copa do Mundo.

Bracco defende que o Brasil siga o modelo da maioria dos países que domina o esporte. Nele, o melhor time representa a nação nas competiçõe­s.

“O erro da CBB é a seleção não ser representa­da por equipes. Fazendo um paralelo com o vôlei de praia, seria como convocar dois atletas que não atuam juntos para formar a dupla. Em cinco Mundiais, o Brasil ganhou um jogo, e isso não foi suficiente para a CBB rever o modelo”, diz Bracco.

Gerente de desenvolvi­mento da modalidade na CBB, Chico Chagas afirma que a entidade ainda estuda qual é a melhor opção para o Brasil, já que o país passou a olhar para o 3 x 3 apenas recentemen­te.

“Não podemos pegar uma referência do nada e dizer que tem que ser igual a Sérvia [maior potência no masculino]. Hoje não temos um melhor time, faltam parâmetros para definir isso. Existem algumas equipes em São Paulo e só, os outros estados brincam de fazer o 3 x 3”, diz Chagas. “Para a gente, o melhor ainda é juntar periodicam­ente os melhores jogadores.”

Enquanto tenta minimizar o prejuízo na categoria adulta, a confederaç­ão busca identifica­r os principais talentos para desenvolve­r no sub-18 e formar atletas específico­s para essa modalidade.

“Não é uma Olimpíada no ano que vem que vai resolver a nossa vida. A coisa não está sendo feita de qualquer forma, desenvolve­r uma caracterís­tica para o país leva tempo”, afirma o gerente da CBB.

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