Folha de S.Paulo

Mostra de Nuno Ramos marca estreia de espaço em Zurique

- O jornalista viajou a convite da galeria Kogan Amaro SM

Lá fora, a garoa fina de um dia frio. Do lado de dentro, um recorte de “Sol a Pino”, série de obras que o artista Nuno Ramos mostrou há dois meses em São Paulo e agora marca a estreia de mais uma galeria brasileira a abrir as portas no exterior, engrossand­o a debandada da crise que abala a economia do país.

É uma diáspora em busca do calor do mercado. Às vésperas do verão europeu e da maior feira de arte do mundo, a Art Basel, que acontece a uma hora de trem dali, a Kogan Amaro encontrou um canto para chamar de seu na Löwenbräu, uma antiga fábrica de cerveja transforma­da em centro cultural no coração de Zurique, a maior cidade suíça.

“Há uma tradição de colecionar arte aqui, o mercado é bem estabeleci­do e o lugar é muito seguro e confiável”, resume Ksenia Kogan, metade da dupla por trás da galeria. “Eles abriram orçamentos para comprar arte latino-americana e internacio­nal.”

Eles, no caso, são os bancos, entidade máxima da sociedade suíça, além dos endinheira­dos que adoram fazer compras por essas bandas. Dias depois da abertura da mostra, aliás, algumas obras de Ramos já estavam vendidas.

“O mercado brasileiro está mais fragilizad­o, mas a gente está conseguind­o resultados interessan­tes”, conta Marcos Amaro, herdeiro do dono da antiga TAM, Rolim Amaro, e outra metade da galeria. “Aqui é um ‘hub’ para a Europa”, completa.

Esse termo usado pelas linhas aéreas como sinônimo de base regional de operações, no caso, vem a calhar. Na economia global, não é segredo, a arte segue o fluxo do dinheiro.

Há uma década, no auge do Brasil turbinado pela venda de commoditie­s, época em que a revista The Economist estampou na capa um Cristo Redentor transforma­do em foguete decolando, estrangeir­os abriam filiais em São Paulo, caso da britânica White Cube, e no Rio de Janeiro, caso da coleção suíça Casa Daros.

Os dois endereços fecharam. E, nos últimos anos, o movimento foi o contrário. A paulistana Nara Roesler abriu uma sede em Nova York. Logo depois, foi a vez da Mendes Wood DM, que estabelece­u casas em Manhattan e Bruxelas. Outra paulistana, a Luciana Brito, também chegou a ter um espaço nova-iorquino.

Dois anos depois de abrir sua galeria em São Paulo, Ksenia Kogan e Marcos Amaro agora se juntam a esse time de expatriado­s. A ideia de ir a Zurique tem algo a ver com as ambições do casal, que vão além de manter uma galeria.

No rastro do fim da Casa Daros, uma das maiores coleções de arte latino-americana da Europa que fechou seus espaços de exibição, Amaro viu na sede suíça uma chance de retomar as vendas de arte da região para colecionad­ores encantados pelos trópicos, tanto que contratou uma antiga diretora do espaço suíço para dirigir a filial em Zurique.

Em paralelo, Kogan e Amaro já investiram R$ 100 milhões na criação de um museu privado em Itu, no interior paulista, onde vão mostrar artistas brasileiro­s e europeus.

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