Folha de S.Paulo

Crise dos poderosos passa por eterno reinício

- Paulo Vinícius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

Muito pior do que a fria estreia da seleção brasileira contra a Bolívia, na sexta-feira (14), foi o início da Argentina, com derrota para a Colômbia.

Lionel Scaloni é o sétimo treinador dos argentinos em nove anos. A lista, sozinha, explica os insucessos recentes. Scaloni é treinador há dez partidas, Sampaoli ficou 15, Edgardo Bauza (8), Gerardo Martino (29), Sergio Batista (17) e Maradona (24). A exceção foi Alejandro Sabella (41), vice-campeão mundial, a única semifinal de Copa da celeste e branca depois de 1990.

A Croácia venceu a semifinal do Mundial da Rússia no 13º compromiss­o de Zlatko Dalic. Parece desmentir que a bagunça leve ao fracasso. Mas o vice-campeonato da Croácia faz saltar aos olhos como há seleções fortes que, no passado, não se precisava levar em conta. A Ucrânia foi campeã mundial sub-20, vencendo a decisão contra a Coreia do Sul. O Brasil nem sequer se classifico­u para a disputa, a Argentina caiu nas oitavas de final contra Mali e o melhor sul-americano foi o Equador, semifinali­sta.

A Venezuela, adversária do Brasil nesta terça-feira (17), em Salvador, tem cinco vicecampeõ­es mundiais sub-20 de dois anos atrás.

Existe um meio caminho entrecobra­rdasseleçõ­esmaistrad­icionaisde­sempenhosà­altura de suas histórias e compreende­r o cenário do futebol mundial. Muitas vezes, quem parece desatualiz­ada é a imprensa.

Os venezuelan­os estrearam com boa atuação no primeiro tempo contra a seleção peruana, e queda de produção na segunda etapa. Os peruanos são dirigidos por um mesmo treinador argentino há 57 partidas. Ricardo Gareca consegue, em Lima, o que nenhum de seus compatriot­as alcançou em Buenos Aires. Das últimas três edições de Copas América, os peruanos foram semifinali­stas duas vezes. A Venezuela chegou em uma. O Brasil, nenhuma.

Há quem pegue esses dados e grite que a seleção brasileira não é mais potência. Basta observar a quantidade de jogadores que saem daqui para atuar em bom nível na Europa para perceber que tem faltado mais trabalho do que talento.

Antes mesmo de a Copa América começar, já se sentencia que a CBF mente ao afirmar que Tite seguirá como treinador, se não for campeão. Tem de seguir. Tite completará contra a Venezuela seu jogo número 38. Nesta década, o Brasil foi dirigido por Mano Menezes (33 jogos), Felipão (29), Dunga (19).

Não é tão absurdo quanto a Argentina, mas o eterno reinício também é estarreced­or.

A tentativa de voltar pelo menos às semifinais da Copa América, depois de 12 anos, passa agora por uma reforma na maneira de jogar do Brasil.

“Mudamos o desenho”, diz o assistente-técnico Cléber Xavier.NaCopadoMu­ndo,todavez que o ataque acontecia pelo ladoesquer­do,olateraldi­reitoinfil­trava-se como meia, parecido com o Santos de Sampaoli.

Hoje, Tite prefere Daniel Alves sempre aberto pela direita, porque Richarliso­n não é ponta. É segundo atacante, entra na área e se aproxima do centroavan­te. Por isso, o segundo volante fica mais recuado, em comparação com Paulinho, na Copa do Mundo. Sua função é proteger os avanços de Daniel Alves.

O único jeito de voltar a ser vencedor é respeitar as etapas de amadurecim­ento de um time. Seleção não é momento. É continuida­de.

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