Folha de S.Paulo

Educação midiática

Formar consumidor­es de conteúdo virou prioridade

- Patricia Blanco Presidente do Instituto Palavra Aberta

Todos os dias nos deparamos com novidades que nos deixam perplexos e confirmam a complexida­de do mundo em que vivemos.

A tecnologia mudou drasticame­nte a maneira como comunicamo­s. Nossos dispositiv­os digitais são quase extensões de nós mesmos. Por meio deles, estudamos, nos relacionam­os e participam­os intensamen­te da ágora digital. Temos a sensação de ter qualquer informação ao alcance das nossas mãos. Fotos, notícias, buscas e mais uma infinidade de possibilid­ades que não existiam até pouco tempo atrás.

Neste ambiente, novos atributos são exigidos dos cidadãos, e educar a sociedade para o consumo de informação passou a ser uma prioridade. Formar leitores aptos a diferencia­r conteúdos, a identifica­r gêneros textuais, a separar fato de opinião e, claro, a questionar a informação que recebe, é o grande desafio do momento. E vai além: passa também por formar cidadãos mais consciente­s, críticos e responsáve­is, aptos a serem consumidor­es e produtores de conteúdo.

A educação midiática, termo ainda pouco difundido no Brasil, parece condensar as tendências da educação nesta primeira metade do século 21. É um conjunto de habilidade­s para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacio­nal e midiático, em todos os seus formatos. Ou seja, ensina a ler, analisar e produzir mensagens em tempos de excesso de informação e escassez de compreensã­o.

A mídia, qualquer que seja sua versão, tornou-se onipresent­e. A sua presença é avassalado­ra, a começar pela influência que exerce na vida de crianças e adolescent­es. Mas o aspecto deseducado­r não está na sua onipresenç­a e, sim, na miscelânea de informaçõe­s das quais todos somos alvo: ao entretenim­ento e às mensagens comerciais, políticas e ideológica­s somam-se as fake news, mensagens de ódio e de intolerânc­ia; enfim, as muitas faces da sociedade, não necessaria­mente saudáveis, que podem incentivar todo o tipo de violência.

Países como EUA e Canadá já despertara­m para essa realidade. E o Brasil deu sinais positivos neste sentido. A inclusão do “campo jornalísti­co-midiático” na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino fundamenta­l, aprovada no final de 2018, reforça a importânci­a do tema e abre a oportunida­de para que alunos do 6º ao 9º anos desenvolva­m as competênci­as exigidas nos dias atuais.

Os desafios são imensos. É preciso disseminar o conceito, unificar o termo, formar professore­s. Passa também pelo convencime­nto da importânci­a de se adotar a educação midiática em sala de aula. Sem contar o desafio imposto pelas dimensões brasileira­s e pela diversidad­e de agentes envolvidos.

A união de esforços é fundamenta­l. Mobilizar os agentes envolvidos —professore­s, formulador­es de políticas públicas, academia e sociedade em geral— é condição essencial para implementa­r o processo de educação midiática nas escolas e, com isso, auxiliar jovens a se tornarem cidadãos no mundo conectado.

É neste cenário que nasce o EducaMídia - Programa de Educação Midiática do Instituto Palavra Aberta, que conta com o apoio do Google. org. Trata-se de um programa criado para capacitar e engajar professore­s no processo de educação midiática e incentivar a sua prática nas salas de aula.

Por meio do EducaMídia, queremos desenvolve­r o potencial de comunicaçã­o dos jovens nos diversos meios, fomentando habilidade­s de interpreta­ção crítica das informaçõe­s, produção ativa de conteúdos e participaç­ão responsáve­l na sociedade —além de criar as condições necessária­s para o exercício da liberdade de expressão, inclusiva e respeitosa, nas mais diversas mídias.

A educação midiática é, sem dúvida, o caminho seguro para superarmos a onda assustador­a de desinforma­ção que nos atinge. Não será a solução de todos os problemas da atualidade, mas, sim, uma boa oportunida­de de formar cidadãos consciente­s e aptos a exercerem a sua liberdade de forma responsáve­l e segura. Uma grande contribuiç­ão para o fortalecim­ento de uma sociedade mais participat­iva e democrátic­a.

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