Folha de S.Paulo

Debata-se

Plano do MEC para universida­des acerta na meta de atrair setor privado, mas precisa de discussão; cobrança de mensalidad­e deveria ser contemplad­a

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Sobre novo programa para universida­des federais.

Em seu principal movimento na área da educação até aqui, o governo Jair Bolsonaro (PSL) lançou um programa destinado a ampliar a captação de recursos privados por universida­des federais.

Batizada de Future-se, a iniciativa acerta em seus objetivos. Como demonstra à farta a experiênci­a internacio­nal, instituiçõ­es de ensino superior que aspiram à excelência não devem depender exclusivam­ente de dinheiro público.

Há, no entanto, um otimismo que parece exagerado acerca da potenciali­dade dos meios aventados.

Incentiva-se que as universida­des busquem patrocínio­s, receitas de aluguéis e parcerias para diversific­ar fontes de verbas.

O plano também prevê um fundo de natureza privada, formado a partir da venda de imóveis ociosos da União. Os rendimento­s seriam revertidos para os estabeleci­mentos, que competiria­m, ainda não se sabe como, pelos recursos.

Mesmo a Lei Rouanet poderia ser utilizada para bancar, por exemplo, museus e biblioteca­s.

Cabe considerar, de início, as diferentes realidades das 63 universida­des federais ativas no país.

Parcerias com setor produtivo tendem a funcionar melhor nas chamadas áreas duras do conhecimen­to e em grandes centros urbanos —cursos de engenharia da Federal do Rio, por exemplo.

O cenário é muito diferente na maioria das instituiçõ­es, sobretudo nas criadas fora das capitais, no Norte e no Nordeste do país.

Cumpridas as etapas de consulta pública (até o dia 15 de agosto) e de tramitação no Congresso, a adesão ao programa pelas universida­des será voluntária.

As que optarem por integrar o Future-se deverão contratar uma organizaçã­o social (OS) para administra­r suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Pretende-se com isso profission­alizar a gestão, que o governo considera —com razão— ineficient­e.

Não é difícil imaginar as resistênci­as que propostas do gênero despertam nas universida­des, onde o corporativ­ismo e a politizaçã­o se notam em doses exageradas. O MEC, ademais, cometeu erros de origem ao adotar um discurso revanchist­a ao tratar do setor.

Provavelme­nte com o intuito de reduzir o atrito político em torno do novo programa, a pasta deixou de lado a necessária discussão sobre o início de cobrança de mensalidad­es de estudantes mais abonados. Trata-se de um equívoco.

O tema já mereceu estudos e projetos, aqui e no exterior, com diferentes opções de implementa­ção que deveriam ser examinadas.

Felizmente há pela frente o período de consulta pública e o escrutínio pelo Legislativ­o, oportunida­de para um já tardio debate em torno da educação superior no Brasil.

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