Folha de S.Paulo

Redemoinho global

- Fernando Canzian

No ritmo atual, antes de 2019 terminar o mundo terá atingido o maior nível de endividame­nto da história. Somadas, dívidas de governos, empresas e famílias ultrapassa­rão US$ 250 trilhões, o equivalent­e a 320% do PIB global.

Nos EUA, governo e empresas não financeira­s já bateram recordes. Entre as famílias, as dívidas voltaram a subir mesmo após a desalavanc­agem forçada pela crise global de endividame­nto de 2008/2009.

Nos 19 países do euro sobem tanto as dívidas dos governos quanto a dos bancos. No Reino Unido, as famílias britânicas já devem proporcion­almente mais (em relação ao PIB) do que as americanas.

O governo inglês, mais que o dos EUA, que deve tanto quanto a média da Eurolândia —todos com dívidas crescentes desde a crise de uma década atrás, quando resgataram bancos e empresas quebradas.

Em condições normais, entes muito endividado­s —governos, empresas ou famílias— são penalizado­s com juros maiores, pois aumenta o risco de ficarem inadimplen­tes. No mundo atual, dá-se o inverso.

Os bancos centrais das duas maiores zonas econômicas —EUA e Eurolândia— preparam-se para cortar os juros e tornar empréstimo­s ainda mais baratos. Fazem isso por temer que suas economias esfriem e entrem em recessão.

Investidor­es internacio­nais que se aproveitam dessa oferta de dinheiro a juros baixos têm comprado ações e provocado recordes em Wall Street, embora o lucro de muitas empresas há algum tempo já não justifique o elevado preço dos papéis.

Nesse redemoinho, as ações das empresas sobem sem que haja demanda suficiente dos consumidor­es para elevar os lucros corporativ­os, sobre os quais incidem os impostos necessário­s para sustentar as dívidas recordes dos governos.

Embora muitos indicadore­s de mercado pintem um mundo próspero, é a partir da perda de renda da classe média consumidor­a nos países ricos que se ensaia uma nova crise de endividame­nto.

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