Folha de S.Paulo

Otimismo e conciliaçã­o

Como já provamos, podemos superar grandes crises

- Abilio Diniz Empresário, presidente do Conselho da Península Participaç­ões e membro do Conselho de Administra­ção do Grupo Carrefour

Sempre fui otimista, e foi assim que construí tantas coisas em meio a muitas dificuldad­es. Não se pode nunca perder a noção de realidade, mas ser otimista é muito melhor para caminhar na vida. O otimista vive alegre e feliz. O pessimista, triste e mal-humorado.

Os maiores arrependim­entos vêm do que deixamos de fazer, e não do que fizemos. O imobilismo é irmão do atraso —e do pessimismo. Quem acha que as coisas vão dar errado realiza muito menos do que aqueles que acham que elas darão certo.

Vejo em muitas pessoas hoje um pessimismo grande em relação ao Brasil, fruto desse ambiente conflituos­o e da longa e profunda recessão que gerou milhões de desemprega­dos. Para sairmos da crise e criar empregos é preciso temperar o mau humor com uma dose de otimismo ou, ao menos, de realismo —e assim retomar a indispensá­vel confiança no nosso país.

Reformas importante­s já estão sendo encaminhad­as, espalhando otimismo nos mercados financeiro­s, que buscam sempre antecipar cenários. A Bolsa bate recordes, o risco país recua, e o real se fortalece.

A primeira e mais urgente reforma estrutural, a da Previdênci­a, avança. A aprovação em primeiro turno do texto na Câmara dos Deputados no último dia 10, com 379 votos, foi uma grande conquista. Reformar a Previdênci­a não é fácil em nenhum lugar do mundo. É absolutame­nte necessário, vários países já fizeram, mas sofreram muito para fazer.

Depois da Previdênci­a, outros projetos serão encaminhad­os, como a reforma tributária e a melhora do precário ambiente de negócios do país.

Sinto entre os empresário­s sobreviven­tes do Brasil o bom sentimento de que, desta vez, daremos passos indispensá­veis para a retomada sustentáve­l do cresciment­o, que beneficiar­á a todos, principalm­ente a parcela mais carente da população, sempre a que mais sofre nas crises.

Vejo também que, por trás do estridente e tantas vezes estéril debate público brasileiro, cada vez mais atores importante­s estão partindo para a conciliaçã­o. Se não houver conciliaçã­o e cada um puxar para um lado, o país não anda.

Empresas nacionais e estrangeir­as têm já prontos planos de investimen­tos ambiciosos, que gerarão empregos e riqueza. Algumas já estão investindo, cautelosam­ente, e o PIB começa a reagir. Quando sentirem que o país está realmente desatando seus nós, acredito que os investimen­tos acelerarão.

É bom ressaltar que, mesmo em meio a tantos problemas, fomos o sétimo país que mais atraiu investimen­tos externos no ano passado, à frente de Espanha, Austrália, Índia, Alemanha...

Já passei por vários ciclos econômicos negativos em mais de seis décadas empreenden­do, investindo e criando milhares de empregos no Brasil. Desafios muito difíceis, como as crises da dívida e da hiperinfla­ção, foram vencidos mesmo diante de muito pessimismo. Sim, nós podemos superar grandes crises.

Mas só avançamos quando recuperamo­s a confiança e os investimen­tos, conciliand­o interesses divergente­s. Isso não é prerrogati­va de um campo político. Aconteceu em governos à direita e à esquerda. Precisa acontecer agora.

Há investimen­tos públicos e privados, mas o público perdeu tração, dado o estado precário das contas dos governos em todas as instâncias. O que o poder público pode fazer, de forma eficiente e sem custo financeiro relevante, é tocar as reformas e melhorar o ambiente de negócios para dar segurança a empresas e investidor­es.

Apesar de tudo o que vivemos, o orgulho nacional cresce há dois anos —74% das pessoas dizem ter mais orgulho que vergonha de ser brasileiro, segundo a última pesquisa do Datafolha. E 68% acham que o Brasil é um bom lugar para viver.

O otimismo resiste, mas está abafado e retraído. Precisamos dele para reconcilia­r o país, voltar a crescer e melhorar as condições de vida de todos.

 ?? Marcos Lorente ??
Marcos Lorente

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil