Folha de S.Paulo

Museóloga e professora, foi funcionári­a pública exemplar

WILMA ROBERTO BOZZO (1931-2019)

- Carlos Bozzo Junior coluna.obituario@grupofolha.com.br

Quando Wilma Roberto Bozzo não tinha ainda Bozzo no nome, seu pai, um paulistano descendent­e de italianos vindos da Calábria, era muito rico. Parte de sua fortuna era formada por palacetes no bairro de Campos Elíseos, por várias casas espalhadas pelo Ipiranga, além de galpões e lojas no centro de São Paulo.

Na infância, na rua Guaianazes,

onde morava, Wilma teve cabra, gato, cachorro (um pointer chamado Bob) e motorista para passear.

Seu pai, Salvador Roberto, não fez jus ao nome quando perdeu tudo o que tinha nas patas dos cavalos do jóquei, em cartas, bebidas, cigarros e mulheres. Não salvou nem mesmo o necessário para comer, ou a casa onde morava a família, formada com Alice, mãe de Wilma e de seus irmãos, Milton e Cristina.

Para levantar dinheiro e ajudar a família, Wilma limpou casas antes de trilhar o caminho de normalista na mesma instituiçã­o em que aprendeu, ensinou, se edificou e se aposentou, em 1981 —o Instituto Caetano de Campos. Foram 36 de seus 88 anos vividos nessa escola, que era a paixão de sua vida.

Outra paixão a fez se casar com Carlos Bozzo, seu primo de segundo grau, que morava em Santa Rosa de Viterbo, interior de São Paulo.

Os dois foram morar em um apartament­o alugado na General Rondon, pequena rua de dois quarteirõe­s perpendicu­lar à alameda Barão de Limeira, em frente ao prédio da Folha.

Ao som da sirene da Folha, criou dois filhos, o arquiteto Claudio Newton Bozzo, e este repórter, Carlos Bozzo Junior, colaborado­r do jornal.

Em 1969, mudou-se com a família para o bairro de Perdizes, onde costumava ir à igreja São Geraldo, à capela da Santa Marcelina e à igreja São Domingos, além da capela da PUC. Sim, Wilma era católica até onde a lei divina faculta.

Morreu na sexta-feira (19), de parada cardiorres­piratória. Deixa os netos Tatiana e Tiago e o bisneto Giuliano, além de mais uma lição, entre várias, para este repórter: só obituários podem desprezar o preceito básico do jornalismo, pois não há como ouvir o outro lado.

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