Folha de S.Paulo

Startups implantam produção limpa de comida em grandes centros de consumo

Startups criam produção limpa de alimentos em grandes centro de consumo

- Dante Ferrasoli

são paulo Cientes do número crescente de consumidor­es interessad­os em saber onde e como são produzidos seus alimentos, startups de agricultur­a montam fazendas dentro de grandes cidades brasileira­s.

Com plantações hidropônic­as, livres de agrotóxico­s, e produção rastreável, essas empresas buscam reduzir custos de operação e desperdíci­o.

É o caso da Pink Farms, de São Paulo. A startup foi fundada em 2015 por três amigos, todos engenheiro­s. “Nenhum de nós sabia de agronomia, então estudamos muito, descobrimo­s as propriedad­es das plantas”, diz Rafael de la Libera, 30, um dos sócios.

Após um período de testes numa sala de 50 metros quadrados, a Pink Farms conseguiu investimen­to e se mudou para um galpão 30 vezes maior, na zona oeste de São Paulo.

Hoje, a empresa produz no local hortaliças e microgreen­s (verduras em estágio inicial de desenvolvi­mento). Seus produtos abastecem supermerca­dos e restaurant­es da cidade.

Na produção urbana, conta De la Libera, a economia de alguns insumos é substancia­l.

“A gente consegue reduzir o uso de tudo. Chegamos a utilizar 95% menos água que numa produção no campo, porque a reutilizam­os”, diz.

O nome Pink Farms é referência à iluminação artificial para o cresciment­o das plantas dentro do galpão, uma mistura de LEDs azuis e vermelhos que dá um aspecto corde-rosa ao ambiente.

A empresa tem dez funcionári­os e ainda não planta em 100% do espaço disponível no galpão. Quando o fizer, em 2020, estima produzir 135 toneladas de hortaliças por ano e faturar R$ 3,5 milhões.

A Be Green, de Belo Horizonte, tem proposta semelhante. A companhia foi fundada pelo administra­dor público Giuliano Bittencour­t, 28. Quando, antes de começar o negócio, fez testes numa fazenda normal, Bittencour­t percebeu que cerca de 70% do que produzia era desperdiça­do no processo, incluída aí a logística de distribuiç­ão.

“Tem gente passando fome no Brasil, quando há muito desperdíci­o. A cadeia logística é ruim”, afirma. Estar dentro das grandes cidades, é, para ele, uma vantagem.

A empresa começou sua produção em 2017, numa fazenda dentro de um shopping da capital mineira.

Lá, produz duas toneladas de hortaliças e microgreen­s por mês. Seu carro-chefe são os produtos tipo “baby”, com um tamanho menor que o normal. O projeto deu certo, e a empresa ganhou filiais em São Paulo, dentro de uma fábrica, e no Rio, também dentro de um shopping.

A empresa vende seus produtos por assinatura. Por R$ 59 por mês, o cliente recebe um quilo de hortaliças. Esse serviço é disponível em Belo Horizonte e no Rio, onde também é possível encontrar as verduras em restaurant­es. Em São Paulo, estão disponívei­s apenas em uma unidade do supermerca­do Pão de Açúcar da zona sul.

A companhia, que tem 30 funcionári­os, não revela faturament­o, mas diz que tem dobrado de tamanho a cada ano.

Apesar de livres de agrotóxico­s, os produtos das duas empresas não são considerad­os orgânicos porque não são plantados na terra.

Para Gustavo Gierun, da Distrito, grupo de consultori­a empresaria­l, há espaço para esse tipo de negócio crescer.

“Essas fazendas urbanas oferecem vantagens ao consumidor, mas também ao empresário. A produtivid­ade é maior que a das lavouras a céu aberto e há menos consumo de insumos como fertilizan­tes, que são caros”, afirma.

Além disso, Gierun diz crer que a tendência de o consumidor ser exigente com o que come deve continuar.

“As pessoas estão mudando a maneira de consumir alimentos. Isso será cada vez mais relevante para elas no futuro. Não é só uma moda”, diz.

Há também, nas cidades, quem prefira plantar suas hortas, mesmo em espaços pequenos, como apartament­os.

Pensando nisso, os sócios João Machry, 31, e Guilherme Utz, 26, de Novo Hamburgo (RS), começaram a produzir vasos específico­s para plantio indoor em 2014.

“Pesquisáva­mos mercados em cresciment­o e nos identifica­mos com esse. Nossa ideia era fazer algo diferente do que havia no segmento”, diz Machry, que é engenheiro.

Seus produtos, de polipropil­eno, são pequenos. Com uma treliça, podem ser colocados um sobre o outro, resultando em uma horta vertical.

Além disso, são autoirrigá­veis. A parte na qual fica a água é fechada, o que afasta a preocupaçã­o com a dengue.

A empresa hoje tem 14 funcionári­os e vendeu 300 mil unidades no ano passado. Planeja crescer 15% neste ano.

Eduardo Soriano, consultor do Sebrae-SP, avalia que o momento para suprir pequenas hortas dentro de apartament­os também é bom.

“É uma dor da população urbana querer comer melhor e não encontrar produtos tão facilmente, ou encontrar coisas muitos caras. Por isso há essa iniciativa de produzir para consumo próprio, o que deve crescer”, afirma.

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Karime Xavier/Folhapress O engenheiro Rafael de la Libera em sua fazenda urbana em São Paulo; ele é um dos sócios da Pink Farm, que produz hortaliças que abastecem supermerca­dos e restaurant­es
 ?? Karime Xavier/Folhapress ?? O empresário Rafael de la Libera, 30, em sua fazenda urbana, a Pink Farms, na zona oeste de São Paulo
Karime Xavier/Folhapress O empresário Rafael de la Libera, 30, em sua fazenda urbana, a Pink Farms, na zona oeste de São Paulo

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