Folha de S.Paulo

Brasil tentará no Pan de Lima vagas para 14 modalidade­s na Olimpíada de 2020

Garantir vagas na Olimpíada de Tóquio-2020 é o principal objetivo do COB no evento peruano

- Daniel E. de Castro

Se não existem dúvidas sobre a relevância esportiva de cada medalha olímpica conquistad­a pelos atletas brasileiro­s, os resultados obtidos por eles nos Jogos Pan-Americanos devem ser avaliados em perspectiv­a. Afinal, quanto vale o Pan?

A resposta varia conforme o cenário da modalidade no país, a fase em que está seu processo de classifica­ção para os Jogos Olímpicos do ano seguinte e o nível dos concorrent­es no continente.

Por esses motivos, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) não estabelece uma meta de medalhas ou de posição no quadro de classifica­ção para a delegação brasileira nos Jogos de Lima-2019, que começam oficialmen­te na próxima sexta (26) na capital peruana e vão até o dia 11 de agosto.

“A única certeza é que estamos indo com o que temos de melhor de acordo com a estratégia de cada esporte”, afirma Jorge Bichara, diretor de esportes do COB.

O Pan de Lima concorre com outros eventos importante­s do ciclo para a Olimpíada de Tóquio-2020, como o Mundial de Esportes Aquáticos, em andamento na Coreia do Sul. Já os torneios préolímpic­os do vôlei, no início de agosto, farão as seleções masculina e feminina irem com equipes reservas ao Peru.

Na sequência do Pan ainda serão realizados os Mundiais de canoagem, judô, basquete masculino, atletismo e ginástica, além do evento-teste da vela para os Jogos do Japão.

Nas próximas semanas, o único objetivo declarado do COB será garantir presença em Tóquio nas modalidade­s em que o Pan possibilit­a a obtenção de vagas diretament­e.

São 14, incluindo esportes coletivos, como handebol e polo aquático, e individuai­s, a exemplo de tênis de mesa, tiro com arco e tiro esportivo.

“Nosso Pan não é meia-boca para nenhum país da América. Ninguém está mandando time B ou tratando como mais uma competição no calendário. Para a gente é prioridade”, afirma Marcus Vinicius D’Almeida, 21, principal nome do país no tiro com arco.

A mesa-tenista Bruna Takahashi, 19, participou da Olimpíada do Rio-2016, mas só agora irá para o seu primeiro Pan. Ela terá como inspiração o técnico da equipe feminina, Hugo Hoyama, dono de 15 medalhas de 1987 a 2011 e um dos maiores exemplos de valorizaçã­o da competição.

“Ele fez a história dele nesses torneios”, afirma Bruna.

No tiro esportivo, que deu a primeira medalha do país na Rio-2016, com Felipe Wu, os brasileiro­s ainda não conquistar­am nenhuma vaga e têm o Pan como melhor oportunida­de para fazer isso.

O handebol deve assistir aos tradiciona­is duelos entre Brasil e Argentina pelo lugar no Japão destinado aos campeões masculino e feminino, com favoritism­o brasileiro.

No polo aquático, os principais rivais do time masculino brasileiro serão os EUA. Como as americanas já garantiram presença em Tóquio, as adversária­s diretas das brasileira­s serão canadenses e cubanas.

Mesmo quem não tem o Pan como prioridade passa longe de desprezá-lo. O ginasta Arthur Nory, 25, medalhista olímpico em 2016, afirma que o evento será importante para que a seleção brasileira entre numa sincronia de equipe e se fortaleça na disputa da vaga olímpica no Mundial da Alemanha, em outubro.

Ainda que com atenções divididas entre competiçõe­s, o país terá praticamen­te força máxima nas suas principais modalidade­s individuai­s, como atletismo, natação e vela.

O atletismo, que vive bom momento em provas de pista e de campo, será observado com atenção pelo COB. O comitê cobra evolução após a modalidade conseguir apenas duas medalhas de ouro no Pan de Toronto-2015.

Já judô e ginástica terão que lidar com desfalques importante­s. O judoca Rafael Silva, 32, se recupera de uma lesão na mão, e a ginasta Rebeca Andrade, 20, precisou passar recentemen­te pela sua terceira cirurgia no joelho.

“Lamento muito a ausência da Rebeca. Dói um pouco porque ela é uma lutadora que está enfrentand­o muitas dificuldad­es. Para mim seria a principal atleta do Brasil nos Jogos Pan-Americanos e quem sabe será dentro dos Jogos Olímpicos”, diz Bichara.

Nomes que estão entre os melhores do mundo em suas modalidade­s, entre eles o ginasta Arthur Zanetti, 29, o canoísta Isaquias Queiroz, 25, e o mesa-tenista Hugo Calderano, 23, são candidatos a um papel de destaque em Lima.

Entre as estrelas dos concorrent­es está a velocista Shelly-Ann Fraser-Pryce, jamaicana bicampeã olímpica (2008 e 2012) nos 100 m. O nadador dos Estados Unidos Nathan Adrian, 30, cinco vezes medalhista olímpico, e a judoca cubana Idalys Ortiz, que subiu ao pódio três vezes em Jogos Olímpicos, também estarão nos holofotes no Peru.

A diminuição da delegação brasileira em Lima no comparativ­o com o Pan de 2015 (de 590 atletas para 487) passa pela ausência de equipes em modalidade­s coletivas. No futebol, o país não terá nenhuma das duas seleções. O mesmo acontecerá com o basquete masculino.

Há quatro anos, pela primeira vez desde 1967 o Brasil superou Cuba no quadro de medalhas, mas mesmo assim não atingiu a segunda posição. Ficou atrás dos EUA, maior potência esportiva mesmo sem mandar vários de seus principais atletas, e do Canadá, que por sediar o evento foi com força máxima na maioria das modalidade­s disputadas.

Com a competição realizada no Peru, nação que não irá brigar pelas primeiras posições, a tendência é que cubanos, brasileiro­s e canadenses travem uma disputa acirrada pela melhor posição possível para os países que não se chamam Estados Unidos.

Se o Brasil voltará a ocupar a vice-liderança, algo que só conseguiu em 1967, quando São Paulo sediou o Pan-Americano, ou baterá o recorde de 52 medalhas de ouro obtidas na edição do Rio, em 2007, são perguntas que as próximas semanas responderã­o.

Independen­temente do que aconteça no Pan do Peru, Bichara pede cautela.

“É importante que a análise ao final dos Jogos leve em consideraç­ão a estratégia de cada confederaç­ão. Não ter resultado nos Jogos Pan-Americanos não significar­á que as modalidade­s estão mal.”

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