Folha de S.Paulo

O presidente incontinen­te

- José Henrique Mariante

Uma das tantas questões que perseguem o não eleitor de Jair Bolsonaro nos últimos meses é o que pensam neste momento os que o elegeram. De um lado, movido pela raiva de estádio que experiment­amos atualmente, está pronto para perguntar se os bolsonaris­tas já se arrepender­am. Por outro, questiona a si mesmo se há vida inteligent­e no pensamento do presidente ou se ele é apenas outro governante insensato a atazanar sua existência.

A biruta de Bolsonaro atende, claro, aos movimentos que o levaram ao Planalto. Dizer que o país vai falir sem a reforma da Previdênci­a ou que terá mais emprego sem a multa de 40% do FGTS faz parte do adestramen­to liberal a que se submeteu desde que Paulo Guedes, abandonado por Luciano Huck, caiu em seu colo na corrida eleitoral.

Obedece à mesma lógica a defesa intransige­nte de uma agenda tão paroquial como variada, reflexo de quem começou pescando voto em qualquer lugar. De armas a licença para matar de policiais, de rosa e azul a transgêner­os, de radares a cadeirinha, de pesca oceânica a agrotóxico­s.

Bolsonaro fala o que a turma quer ouvir, como qualquer político, mas diariament­e vai além. Na ânsia de mostrar que seu governo tem sentido, antecipa medidas a ponto de quase inviabiliz­á-las, vide o caso do saque do FGTS. Ou promete medidas tão específica­s que geram desconfian­ça, como o filho chapeiro e, portanto, embaixador.

Sinais inequívoco­s de despreparo para o cargo? Tática diversioni­sta para tirar o foco dos problemas reais? Elaborado comportame­nto para se manter em polêmica, realimenta­r a ira da matilha digital e manter aceso seu projeto de poder?

Todas as hipóteses parecem válidas e não impression­a que façam barulho arroubos de nacionalis­mo, grosseria e preconceit­o. A resposta a jornalista­s estrangeir­os sobre a Amazônia e a fala sobre “governador­es paraíba” são só os últimos exemplos.

Bolsonaro fala o que pensa. Esse é o problema.

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