Folha de S.Paulo

Refúgio na galera

- Leandro Colon

De surpresa, Jair Bolsonaro apareceu em uma tradiciona­l galeteria em Brasília para almoçar no domingo (21). “O calor do povo não tem preço”, disse em rede social.

Pouco antes, o presidente esteve em um culto evangélico e discursou aos presentes. Ele afirmou que não sofre a solidão do poder porque tem lealdade com o povo. No sábado (20), deu uma passada em um encontro de motociclis­tas no DF. Divulgou as imagens da visita logo em seguida.

Nenhum desses eventos estava previsto na agenda de fim de semana do presidente. Episódios semelhante­s, com escapadas sem aviso prévio, ocorreram em sábados e domingos recentes. E a imprensa, logicament­e, precisa correr atrás dele.

Assim como também virou rotina o presidente terminar a semana sob artilharia após declaraçõe­s polêmicas, muitas descabidas, desconexas da realidade e até da verdade.

O que faz Bolsonaro? Tem usado o fim de semana para tentar prevalecer sua narrativa dos fatos da véspera, culpando a imprensa por, segundo ele, deturpar o que dissera.

Ao mesmo tempo, produz e difunde imagens com simpatizan­tes. Noves meses depois de ser eleito presidente, Bolsonaro mantém a tática de campanha eleitoral pendurada em seguidores fora e dentro das redes.

Parece ser a aposta dele diante de ausência de um apoio fidelizado no Congresso, da escassez de estratégia política e de comunicaçã­o no Planalto e da intolerânc­ia que não esconde ter a críticas da imprensa.

Há três dias, Bolsonaro surpreende­u até quem já desistiu de se surpreende­r com ele. Foi uma sexta-feira (19) maluca e sem fim. Declarou que não há fome no país, agrediu governador­es do Nordeste e admitiu que criticou um filme (o da Bruna Surfistinh­a) ao qual não assistiu.

Questionad­o sobre o fim dos 40% de multa sobre o FGTS, deu resposta confusa. E colocou em xeque dados do governo sobre desmatamen­to.

Está posta a estratégia do presidente de falar o que quer e correr para a galera. A dúvida é o preço que o país pagará por isso no longo prazo.

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