Folha de S.Paulo

Eduardo nos EUA, caso Tabata e faxina no PSDB mudam cenário para 2020

Indefiniçõ­es internas dos partidos e excesso de nomes embaralham disputa à Prefeitura de SP

- Carolina Linhares Colaborara­m Joelmir Tavares, de São Paulo; João Pedro Pitombo, de Salvador; e Ana Luiza Albuquerqu­e, do Rio

são paulo A 15 meses da eleição municipal, movimentaç­ões internas nos partidos embaralham a disputa pela Prefeitura de São Paulo, considerad­a a mais importante pelas siglas.

A possível ida de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) aos EUA, a guerra entre a deputada federal Tabata Amaral e seu partido, o PDT, e o movimento do prefeito Bruno Covas (PSDB) contra seu correligio­nário mineiro Aécio Neves têm efeito no cenário ainda incerto de pré-candidatur­as.

No PSL, o diretório estadual é comandado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, que deve ser indicado pelo pai, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), à embaixada nos Estados Unidos. Seu afastament­o da vida partidária pode beneficiar a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), que quer disputar a prefeitura.

Embora conte com outros colegas, como o deputado federal Alexandre Frota (PSLSP), Joice enfrenta resistênci­a de Eduardo e de seu núcleo. “Não queremos um candidato do PSDB dentro do PSL, ou do PSL apoiado pelo PSDB”, resume o deputado estadual Gil Diniz (PSL).

A alfinetada é por conta da proximidad­e entre Joice e o governador João Doria (PSDB).

Eduardo trabalhou para filiar o apresentad­or José Luiz Datenaelan­çá-locandidat­odo PSL à prefeitura, mas a possibilid­ade é considerad­a remota.

Outro nome cotado é o da deputada estadual Janaina Paschoal (PSL), recordista com mais de 2 milhões de votos. Janaina, no entanto, tem recusado a ideia.

O próprio Gil se coloca como pré-candidato. “Tenho a confiança da bancada estadual, de alguns federais, do Eduardo e do presidente”, afirma.

Para resolver as disputas internas, a tendência é que o PSL faça prévias para definir seu candidato à prefeitura.

Caso Joice viabilize sua candidatur­a e vença as prévias, terá o apoio de todo o partido, afirma Gil. Para facilitar sua candidatur­a, a deputada busca controlar o diretório municipal do PSL, que está suspenso atualmente por não ter prestado contas à Justiça Eleitoral no passado.

Advogados da legenda correm com a papelada para restabelec­er o diretório a tempo de lançar candidatur­as —ou o partido não terá candidatos a vereador e a prefeito em São Paulo. Até agora, não há nomes cogitados para comandar o PSL paulistano.

Na última semana, também despontou na corrida o nome de Tabata Amaral. A deputada de 25 anos formada em Harvard já era mencionada pelo presidente do PDT, Carlos Lupi, como uma opção para a Prefeitura de São Paulo. Ela, no entanto, contrariou determinaç­ão da sigla ao votar a favor da reforma da Previdênci­a e agora está ameaçada de expulsão.

Os ataques de Lupi e de Ciro Gomes (PDT) contra Tabata deram visibilida­de à deputada, que recebeu convites de PSDB, Rede, Cidadania e PSD.

“Não digo que não há possibilid­ade de ela concorrer pelo PDT, mas os cristais quebraram-se. Quando cristal quebra, para tentar voltar à forma original é muito difícil. Mas com certeza teremos candidato a prefeito em São Paulo. Estamos avaliando”, diz Lupi.

Os nomes cogitados são de Gabriel Chalita, Luiz Antônio de Medeiros Neto e Nelson Marconi, economista da FGV.

Mesmo diante do imbróglio no PDT, há líderes políticos de outros partidos crentes de que Tabata estará na eleição municipal. Por representa­r a nova política, defender a educação e quebrar a lógica de polarizaçã­o esquerdadi­reita, a deputada tornouse nome cobiçado.

Também há adversário­s céticos, que apontam sua inexperiên­cia e a possibilid­ade de ser derrotada em debates. Para estes, ela seria uma boa candidata a vice.

A própria deputada já afirmou que não tem interesse em disputar a prefeitura e está focada em seu mandato. Tabata, que é apoiada pelos movimentos de renovação política Acredito e Renova BR, tem com este último o compromiss­o de cumprir os quatro anos na Câmara.

Aliados apostam que ela não será candidata e afirmam que o embate na Previdênci­a, que opôs seu partido e os movimentos dos quais faz parte, mostra que ela segue suas convicções.

Outro que se viu às voltas com disputas internas no partido foi Bruno Covas, que busca a reeleição pelo PSDB. O diretório municipal, controlado pelo seu aliado Fernando Alfredo, aprovou um pedido de expulsão de Aécio Neves.

Covas, então, subiu o tom e afirmou: “Ou ele ou eu”. Tomou uma bronca pública do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tuitou: “Jogar filiados às feras, principalm­ente quem dele foi presidente, sem esperar decisão da Justiça, é oportunism­o sem grandeza. Não redime erros cometidos nem devolve confiança”.

Para tucanos ouvidos pela reportagem, o desentendi­mento foi pontual e não contaminou o apoio do partido à reeleição de Covas. Pelo contrário: a avaliação é a de que o prefeito ganhou pontos com o eleitorado, que associa o PSDB aos escândalos de corrupção de Aécio.

“Ele saiu fortalecid­o. Tomamos uma posição e demos uma resposta à sociedade. Agora cabe ao diretório nacional”, afirma Alfredo. “Covas tem o apoio dos tucanos históricos e de João Doria, que é a maior liderança que o PSDB tem hoje.”

Houve quem dissesse, porém, que o ataque de Covas foi imaturo e demonstrou fragilidad­e política. O diretório do PSDB mineiro, por exemplo, respondeu apontando que há membros paulistas também envolvidos em denúncias e que o próprio prefeito é réu acusado de improbidad­e administra­tiva.

Embora não tenha afastado a velha guarda tucana, o movimento teria deixado Covas mais próximo de Doria, que defende a faxina no PSDB.

Contar só com o governador, no entanto, é arriscado —Doria já atropelou seu padrinho Geraldo Alckmin e tem outros aliados na corrida pela prefeitura, como Joice e Filipe Sabará (Novo), que integra seu governo. Foi Doria também quem convidou Tabata a migrar para o PSDB.

Aliados do governador dizem, porém, que ele está fechado com Covas. Reeleger o prefeito, que foi seu vice, é importante no seu projeto de tornar-se presidente. O PSDB costura uma aliança ampla com as siglas da base do prefeito.

Já no campo da esquerda, além do PDT, o PSOL lançará candidato, provavelme­nte o deputado estadual Carlos Giannazi, e o PT trabalha com quatro nomes: Eduardo Suplicy, Jilmar Tatto, Carlos Zarattini e Paulo Teixeira.

O ex-prefeito petista Fernando Haddad, que concorreu ao Planalto, descartou a ideia de disputar. Sua mulher, Ana Estela Haddad, que teve o nome cogitado, deve concorrer ao cargo de vereadora.

“A ideia é dialogar com outros partidos de esquerda e formar pontes para um segundo turno”, diz o deputado estadual Paulo Fiorilo, presidente municipal do PT.

O PSB deve lançar o ex-governador Márcio França. E corre por fora o deputado Arthur Mamãe Falei (DEM), que quer disputar a prefeitura e recebeu convites de outros partidos —não está definido se ele se candidatar­ia pelo DEM ou se deixaria a sigla.

Edson Salomão, fundador do grupo Direita São Paulo, também cogita disputar as prévias do PSL.

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Pedro Ladeira - 23.abr.19/Folhapress Joice Hasselmann (PSL), uma das cotadas à Prefeitura de São Paulo

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