Cidade americana usa música infantil para expulsar moradores de rua
Músicas já foram usadas como armas para incomodar pais, babás e outros adultos antes sãos na proximidade de crianças.
Agora, “Baby Shark” e “Raining Tacos” estão sendo usadas pelas autoridades municipais de West Palm Beach, na Flórida (EUA) como ferramenta de gerenciamento de propriedades.
Para impedir que as pessoas em situação de rua passem a noite no Pavilhão do Lago à Beira-Mar e no Grande Gramado, lugares que oferecem cenários de “milhões de dólares” para eventos especiais, as autoridades de West Palm Beach começaram há três semanas a tocar canções desagradáveis com alto-falantes estrategicamente colocados.
Às 22h, começa “Baby Shark”: “Baby Shark, du du du du du”. Após 1 minuto e 45 segundos de “du dus” adicionais para papai, vovó e vovô, peixinhos cantam “é o fim”, e isso vale para a primeira rodada da música, mas não para a loucura, que dura mais oito horas, até o sol nascer sobre o canal que margeia o terraço do pavilhão.
Em seguida, no ciclo contínuo de músicas torturantes, vem “Raining Tacos”, canção sobre o prato mexicano (“Concha! Carne! Alface! Queijo!”) caindo do céu.
O volume da música respeita a lei municipal e é uma medida temporária, enquanto as autoridades exploram a definição de horários aplicáveis para o Grande Gramado e o Pavilhão à Beira-Mar, disse a porta-voz da prefeitura, Kathleen Walter.
As melodias, segundo ela, destinam-se a “desencorajar a reunião de pessoas no prédio e, se for o caso, encorajá-las a buscar um abrigo mais seguro e apropriado por meio dos muitos recursos disponíveis”.
Esses recursos incluem treinamento para empregos e uma equipe de advogados que vão às ruas “encontrar as pessoas onde elas estiverem” e conectá-las com a ajuda de que precisam, incluindo abrigo e recursos para lidar com problemas de saúde mental ou dependência de drogas, disse o prefeito de West Palm Beach, Keith James.
“Acho bom que esta história esteja atraindo muita atenção, porque espero que isso abra uma conversa mais ampla, uma discussão nacional sobre a situação dos sem-teto em todo o país”, disse James.
Um bom sono é fundamental para o bem-estar físico e mental das pessoas, e a falta dele pode agravar os desafios já enfrentados pelos que passam por situação de rua.
“Ter que viver sem um lar é cansativo —fisicamente, mentalmente, emocionalmente, em todos os sentidos”, disse Bobby Watts, executivo-chefe do Conselho Nacional de Saúde para os Sem-Teto, ao site Rewire.News no ano passado.
“A necessidade de sono deles é maior, mas sua capacidade de conseguir dormir é ainda menor do que se estivessem morando numa casa.”
Illaya Champion disse ao Palm Beach Post que ele se deita junto ao pátio do pavilhão para se proteger do sol e da chuva. “Está errado”, disse ele sobre a nova música. “Ela não me incomoda. Eu ainda me deito lá. Mas eles tocam as mesmas músicas sem parar.”