Com baixa adesão, SP leva vacina de sarampo à escola
Dia D na capital teve participação menor do que a esperada; estado vacinou apenas 5% dos jovens
Após mais de um mês de campanha e um Dia D de vacinação neste sábado (20), o estado de SP conseguiu imunizar 223 mil pessoas contra o sarampo —apenas 5% do público-alvo, de 4,4 milhões de jovens entre 15 e 29 anos.
Desde 7 de junho, os casos da doença dispararam, passando de 51 para 484 até o último balanço divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde. O número preocupa por ser o maior registrado em mais de 20 anos.
Ao menos 25 cidades estão em alerta, como Santos, que tem 23 casos. A grande maioria, porém, foi confirmada na capital —363, sendo 70 autóctones, contraídos no próprio local. Há ainda outros 800 casos em investigação.
Para tentar frear o surto na capital, o prefeito Bruno Covas (PSDB), em parceria com a gestão do governador João Doria (PSDB), anunciou nesta segunda-feira (22) que fará vacinação nas escolas públicas (estaduais e municipais), além de intensificar o envio de equipes para empresas privadas, faculdades e condomínios. A estrutura da Polícia Militar também pode ser usada.
“A vacinação só nas unidades básicas de saúde não foi suficiente. Agora estamos vacinando também no metrô, em terminais de ônibus, terminais de trem, shoppings”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido. “É importante que fique claro à população: sarampo não é uma gripe. Sarampo mata.”
Segundo Aparecido, empresas com funcionários infectados que se negarem a receber os profissionais de saúde podem ser fechadas por até 21 dias —período de ciclo do vírus. “É uma questão de saúde pública”, disse o secretário.
Já nas escolas, alunos e professores devem começar a receber as doses em agosto, na volta às aulas, de acordo com o secretário estadual de Educação, Rossieli Soares.
Para Covas, a explosão de casos é decorrente da desinformação. “Especialmente do fato de as pessoas terem decidido não tomar vacina e isso se deve em grande parte às fake news que vem se espalhando pela internet”, disse o prefeito.
No primeiro momento da campanha, a orientação era que quem já tivesse tomado as duas doses da vacina não precisaria se vacinar de novo —as doses são, normalmente, oferecidas para crianças de até 12 meses e 15 meses de idade, respectivamente.
Mas com o aumento do número de infectados houve mudanças. “Agora, a orientação é para a vacinação indiscriminada de 15 a 29 anos. Isto é, mesmo quem tem as doses completas deve se vacinar”, afirmou a coordenadora de Vigilância em Saúde, Solange Saboia.
Isso porque a faixa etária é a mais suscetível a não ter tomado a segunda dose da vacina. E, embora represente cerca de 20% da população paulista, responde pela metade dos casos da doença. Pessoas com mais de 30, embora não estejam no foco da imunização, podem tomar a vacina.
O prazo da campanha também foi estendido até 16 de agosto e não é preciso apresentar a carteira vacinal.
O sarampo é uma doença altamente contagiosa que pode evoluir para complicações e levar à morte. Os principais sintomas são febre, manchas avermelhadas na pele do rosto e tosse persistente. Alguém infectado pela doença pode contaminar outras 18 pessoas.
Por isso, antes do surto, a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, já era oferecida gratuitamente durante todo ano pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Ela é indicada para crianças de até 12 meses, que devem tomar outra dose de reforço a partir dos 15 meses de idade. Devido ao aumento de casos, no entanto, a vacina vem sendo oferecida a outros grupos prioritários mais abrangentes.
Profissionais de saúde das redes pública e privada também devem estar imunizados, devido a possibilidade de contato com pessoas infectadas. Já as gestantes e imunodeprimidos, como pessoas submetidas a tratamento de leucemia e pacientes oncológicos, não devem tomar a vacina.
Antes considerado um país livre do sarampo, o Brasil perdeu o certificado concedido pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em fevereiro deste ano, após registrar mais de 10 mil casos em 2018. O surto aconteceu principalmente nos estados de Amazonas e Roraima.
Em 2019, o último balanço do Ministério da Saúde, divulgado no dia 17 de julho, apontava 426 casos no país distribuídos por sete estados. Segundo a pasta, três estados estão com surto ativo da doença: São Paulo, Rio de Janeiro e Pará. O primeiro lidera o ranking com o maior número de infecções, representando 82% de todos os registros.
Para a diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica, Regiane de Paula, o surto no estado pode ser explicado pela queda da cobertura vacinal, que em 2014 chegou a 105% e em 2018 havia caído para 90,5%.
“Os jovens deixaram de ver a doença e se vacinar. Com a queda, temos mais pessoas suscetíveis ao vírus, que chega de fora do país, via porto ou aeroporto”, diz. Na capital paulista, as primeiras ocorrências foram importadas da Noruega, de Israel e de Malta.