Folha de S.Paulo

Estadista é quem se destaca dos demais políticos

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

Por enxergar mais longe, ser capaz de se elevar acima das divisões sectárias e fazer avançar agendas decisivas, que produzirão impactos positivos por décadas. Jair Bolsonaro é o exato oposto disso.

são paulo Costuma-se reservar a palavra “estadista” para designar líderes que se destacam dos demais políticos por enxergarem mais longe, serem capazes de elevar-se acima das divisões sectárias e fazer avançar agendas decisivas, que produzirão impactos positivos por décadas.

Jair Bolsonaro é o exato oposto disso. Ele não tem noção da estatura do cargo que ocupa, dedicandos­e a questiúncu­las que não deveriam chegar nem perto do gabinete presidenci­al, como o conteúdo de filmes que contam com financiame­nto público ou o número de pontos necessário para cassar a habilitaçã­o de motoristas. Pior, busca interferir nesses assuntos de forma personalis­ta, com desprezo pelas instituiçõ­es e contra consensos técnicos.

Bolsonaro também não desperdiça oportunida­des de aprofundar as divisões políticas que tanto mal têm causado ao país. Ele abusa de pautas que não passam de nitroglice­rina ideológica, investe contra governador­es nordestino­s e ataca, de forma pusilânime, desafetos e até profission­ais que não corroborem suas singulares visões de mundo.

Não dá nem para afirmar que o presidente é sincero em suas convicções. Quando julga que há uma oportunida­de para faturar, não hesita em renegar o discurso da véspera, como se viu no caso do acordo do Mercosul com a UE, duas entidades supranacio­nais, que foram demonizada­s durante a campanha. Não estou reclamando. Seria pior se ele sempre levasse suas fantasias até o fim.

Mesmo quando seu governo tem êxitos a celebrar (e existem alguns), eles não raro foram objeto de sabotagem do próprio Bolsonaro, como vimos na reforma da Previdênci­a —o que faz duvidar de sua inteligênc­ia.

Se não houver um desastre econômico, seguiremos nesse ritmo por mais três anos e meio. Podemos nos consolar com o fato de que colunistas brasileiro­s não enfrentamo­s o problema da falta de temas de política nacional que atormenta nossos homólogos suíços e norueguese­s.

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