Folha de S.Paulo

Disparidad­e salarial

Acerca de despesas excessivas com o funcionali­smo.

- editoriais@grupofolha.com.br

Com salários elevados desde os estágios iniciais das carreiras, estabilida­de no emprego e privilégio­s previdenci­ários, dificilmen­te o setor público brasileiro poderia dar maiores incentivos à baixa produtivid­ade de seu quadro de pessoal.

Não surpreende, pois, que o país, longe de apresentar resultados animadores em áreas cruciais como educação, saúde e segurança, assuma custos extraordin­ariamente altos com seu funcionali­smo.

Conforme noticiou esta Folha ,o pagamento de servidores ativos nas três esferas de governo, em tendência de expansão, consumiu 13,6% do Produto Interno Bruto no ano passado. Pouquíssim­os países do mundo destinam fatia tão ampla de seus recursos a essa finalidade.

Entre as maiores economias do mundo, apenas a África do Sul, com 14,2% do PIB contabiliz­ados em 2016, arca com gastos relativame­nte maiores. Entre emergentes se costuma desembolsa­r a metade dessa cifra ou menos.

A despesa nacional com o funcionali­smo se aproxima, como se nota, à da Previdênci­a —que inclui, aliás, os benefícios de funcionári­os públicos inativos e seus pensionist­as. Não se pode imaginar um programa de ajuste orçamentár­io sem contemplar essas duas frentes.

Os gastos com aposentado­s se expandem em ritmo mais explosivo, o que justifica serem alvo de reforma mais imediata. Racionaliz­ar o dispêndio com pessoal é tarefa ainda mais complexa, que envolve medidas de curto e longo prazos —e uma árdua batalha contra corporaçõe­s influentes.

Seria menos complicado se as distorções salariais estivessem concentrad­as, como pode parecer, em algumas poucas categorias com vencimento­s próximos do teto de R$ 39,2 mil mensais ou, graças a benefícios diversos, acima dele.

Os dados mostram, no entanto, que os salários médios dos servidores superam os dos demais trabalhado­res, com folga, em todos os níveis de qualificaç­ão (fundamenta­l, médio e superior).

É necessária, portanto, uma ampla revisão das políticas de remuneraçã­o, em âmbito federal, estadual e municipal. Uma providênci­a básica, que já tarda, é reduzir os valores pagos aos recém-contratado­s, hoje não distantes o suficiente daqueles do topo da carreira.

Tanto quanto possível, devemse buscar parâmetros na iniciativa privada para vencimento­s e reajustes, considerad­as funções e qualificaç­ões similares.

Cumpre rever o exagerado alcance da estabilida­de no emprego, não para promover demissões em massa, uma vez que a quantidade de servidores do país não chega a ser excessiva, mas para facilitar eventuais substituiç­ões de profission­ais ou correções localizada­s.

A redução do custo relativo do funcionali­smo deve se dar de modo gradual, à medida que os quadros de pessoal se renovem na União, nos estados e nos municípios. Mais importante, tudo indica que é possível fazê-lo sem compromete­r a busca por melhor qualidade dos serviços públicos essenciais.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil