Folha de S.Paulo

Investigad­o, Flávio concentra atuação fora da tribuna

- Daniel Carvalho

brasília Quando pisou no plenário do Senado pela primeira vez após ser eleito para uma vaga na Casa, ainda em dezembro de 2018, Flávio Bolsonaro, 38, foi logo cercado pelos futuros colegas.

Já era visto como o canal direto do Senado com o gabinete do pai, o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto. Papel que, de fato, passou a desempenha­r.

“Quer queira quer não, ele tem uma aproximaçã­o diferencia­da com o mandatário do país e com a equipe dos ministros. Ele é um líder informal do governo”, resume o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP).

Dois dias depois da primeira visita de Flávio ao Senado, estourou a notícia de que um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s) apontava movimentaç­ão atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta de Fabrício Queiroz, seu assessor quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Atendendo a um pedido da defesa de Flávio, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, suspendeu todas as investigaç­ões baseadas em relatórios do Coaf com dados detalhados.

Colegas de Senado dizem que o filho mais velho de Bolsonaro destoa de outros membros da família ao adotar discrição nas redes sociais e nos discursos. Nas conversas pessoais, não é estridente. Mostra-se capaz de conversar inclusive com a oposição.

“É uma pessoa de fácil relacionam­ento, muito aberto e cordial. Sempre se coloca à disposição para conquistar apoio para as matérias de interesse do governo”, afirma o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

Senadores próximos dizem que ele não é vaidoso como os irmãos e que, de fato, tenta ajudar nos bastidores.

Um exemplo foi o dia em que o governo tentava evitar a derrubada do decreto que flexibiliz­a a posse e o porte de armas no Brasil. Flávio levou ao Executivo um acordo para que fosse aprovada só a posse, mas recebeu resposta negativa do Planalto.

Já opositores classifica­m Flávio como um colega afável, mas que se omite em questões polêmicas e não tem um diálogo estabeleci­do com eles.

“Ele não participa [de ataques], mas podia ter um papel protagonis­ta. Para mim, não basta ser apenas cordial”, afirma o líder da minoria, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Em plenário, Flávio faz falas pontuais no dia a dia —o sistema do Senado contabiliz­a cinco pronunciam­entos, embora não registre algumas manifestaç­ões que elevam essa estatístic­a—, geralmente em defesa da agenda do governo.

Pelo Salão Azul, no trajeto entre seu gabinete, no 17º andar, o plenário e as comissões de que participa, costuma andar com passos rápidos e nunca é visto sozinho.

Flávio integra a Mesa Diretora do Senado como terceiro secretário, posto que lhe dá o direito de indicar 13 cargos comissiona­dos e cuja atribuição é fazer a chamada dos senadores, contar os votos, em verificaçã­o de votação, e auxiliar o presidente na apuração das eleições, anotando os nomes dos votados e organizand­o as listas respectiva­s.

Além disso, é titular em cinco comissões e integra outras duas como suplente.

Até o final de junho, havia apresentad­o 18 propostas. São projetos para reduzir a maioridade penal, flexibiliz­ar a instalação de fábricas de armas e munições, proibir a extinção de punibilida­de pela retratação no crime de falso testemunho, limitar a remuneraçã­o de empresas de equipament­os de fiscalizaç­ão eletrônica de trânsito e para incluir na educação básica temas como empreended­orismo, matemática financeira e educação moral e cívica.

Também apresentou propostas para definir o crime de arrastão, para agravar pena por uso de armas de brinquedo e tratando sobre legítima defesa por agente de segurança pública.

Em seu gabinete, emprega 20 pessoas, sendo 17 cargos comissiona­dos. Alguns destes já trabalhava­m com Flávio na Assembleia Legislativ­a do Rio. Em seu escritório de apoio, tem outros quatro funcionári­os.

Desde que assumiu a cadeira de senador, seu gabinete gastou pouco mais de R$ 57 mil, sendo 44% deste valor com passagens aéreas.

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