Em SP, mulher de Moro critica banalizar criação de institutos
Uso de entidade para palestras foi cogitado por procurador da Lava Jato, aponta diálogo
Em encontro promovido por um shopping de luxo de São Paulo e pelo Lide —grupo fundado pelo hoje governador João Doria (PSDB)— nesta segunda (22), a advogada Rosangela Moro criticou a criação de institutos que escondam fins eleitorais e pessoais.
A mulher do ministro Sergio Moro (Justiça) falou a um grupo de mulheres no shopping Cidade Jardim, no Morumbi (zona sul ), durante evento sobre o tema empreendedorismo social. Rosangela tem um escritório que atua na área e atende associações e fundações.
“Agente vê muito, acontece muito em época de período eleitoral, pipocam criações de institutos, ‘olha, estou fazendo o bem’, indo atrás de voto. Isso é uma das receitas fadadas ao insucesso da sustentabilidade da associação.”
Segundo Rosangela, criar uma organização unicamente por interesse pessoal também é caminho para o fracasso.
A Folha mostrou em 14 de julho que o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, cogitou criar um instituto para centralizar atividades dele como palestrante. A sugestão aparece em mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil.
O procurador comentou, em conversa com o colega Roberson Pozzobon, que esse formato jurídico poderia servir para evitar questionamentos legais e afastar a repercussão negativa do negócio que planejavam abrir.
“Deu o nome de instituto, que dá uma ideia de conhecimento...”, escreveu Deltan, em referência a um evento organizado por uma entidade.
Rosangela não mencionou o episódio envolvendo o procurador que atuou com Moro na Lava Jato. A advogada fez o comentário ao ser instada a citar erros cometidos por empresas ou pessoas que pensam em atuar em causas sociais.
Ela afirmou ainda que interessados no setor devem fugir de amadorismo, investir em governança corporativa e ter normas rígidas de compliance (conformidade), já que terão que obedecer à legislação e estarão sujeitas a controle externo.
“O assistencialismo é uma palavra que a gente tem que deixar para trás, tá? A política assistencialista, na minha visão, é uma política de sucesso se você tiver quanto menos pessoas dependendo dessa política”, opinou ela sobre o chamado terceiro setor.
O evento com Rosangela, só para convidados, reuniu cerca de 35 pessoas, a maioria mulheres, em um espaço do shopping chamado M.inq (de “Mundo Inquieto”).
Ela chegou e saiu acompanhada da empresária Lydia Sayeg, joalheira mais conhecida por sua aparição no reality show “Mulheres Ricas”, da Band, em 2012.
A advogada se recusou a atender a Folha no fim do evento. Os dois seguranças que a protegiam disseram que ela não queria dar entrevista. Segundo Lydia, a mulher de Moro precisava ir embora rápido para pegar um voo.
Rosangela foi alvo de discreta tietagem e posou para fotos com participantes. Segundo um integrante da organização, ela desembarcou no Brasil nesta manhã, após viagem com o ministro na licença de cinco dias que ele tirou, encerrada na sexta (19).
Também compuseram o painel a presidente do Lide Mulher, a empresária Nadir Moreno, e a advogada Anne Wilians, que preside o Instituto Nelson Wilians (braço social do escritório homônimo), além da advogada Sandra Comodaro e da empresária Fabi Saad.
Pela manhã, Rosangela participou de outro evento do Lide, o Fórum Saúde e Bem-Estar. Ela, que executa trabalhos em favor das Apaes (associações de apoio a pessoas com deficiência), deu palestra na condição de advogada especializada em doenças raras.
Doria se desligou do Grupo Doria, que detém o Lide, após vencer a eleição para prefeito em 2016. Em junho, o governador homenageou Moro com a principal honraria do estado, a Ordem do Ipiranga. O gesto foi interpretado como uma movimentação com vistas à eleição presidencial de 2022.
O assistencialismo é uma palavra que a gente tem que deixar para trás, tá? Rosangela Moro durante encontro do grupo Lide em shopping de São Paulo