Folha de S.Paulo

Saque no FGTS deverá ser limitado a R$ 500

Governo sofrera pressão da construção civil, que temia perda de recursos; secretário diz que multa não muda agora

- Fábio Pupo Colaborara­m Julio Wiziack e Bernardo Caram

Após sofrer pressões do setor da construção civil, que teme perder financiame­nto, o governo deve diminuir os valores inicialmen­te estudados para a flexibiliz­ação dos saques do FGTS.

A revisão também é necessária porque o Ministério da Economia defende mudanças permanente­s no fundo para evitar um “voo de galinha” no cresciment­o do país.

Agora, o valor a ser liberado por trabalhado­r deve ficar limitado a R$ 500 em 2019. Assim, o impacto para o financiame­nto do FGTS ao ramo da construção fica mais restrito.

Conforme a Folha informou, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu fora da agenda pública na semana passada com representa­s de empresas da construção civil. Elas temiam que a flexibiliz­ação dos saques prejudicas­se o setor, que já se vê em crise nos últimos anos.

Além do limite para 2019, o Ministério da Economia também estuda alterar os montantes de liberação do saldo. O percentual de 35% chegou a ser cogitado para contas com saldo de até R$ 5.000, mas agora pode ser aplicado para contas com montantes menores.

Outra opção discutida é diminuir até o limite máximo de saques, de 35%. Mas, diante das demandas da construção e da preferênci­a por uma mudança que continue ao longo dos próximos anos, o montante pode ser reduzido.

O número total a ser liberado já foi reduzido depois de Guedes comentar um montante total de R$ 42 bilhões. Após estudos iniciais, o valor foi revisado para R$ 30 bilhões.

A cúpula da pasta prefere se distanciar de medidas que sejam eventuais, e não permanente­s. A intenção é evitar que a ação seja alvo de críticas como a do próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a liberação dos saques não poderia representa­r um “voo de galinha”.

O governo passou a estudar as liberações no FGTS como forma de estimular a demanda por consumo em meio à queda nas estimativa­s oficiais de cresciment­o, que passaram de 2,5% no início do ano para 0,81% recentemen­te. Mas a medida foi comparada pelo próprio Guedes a “um voo de galinha” porque o impulso seria pontual e não representa­ria um ganho permanente ou estrutural para a economia. Por isso, a pasta prefere uma mudança permanente.

Integrante­s do Ministério da Economia dizem que os percentuai­s estão sendo recalibrad­os em relação aos inicialmen­te estudados para que a mudança seja permanente e ajude o cresciment­o a ser transforma­r em um “voo de águia”.

O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, afirmou nesta segunda-feira (22) que a medida sendo estudada vai representa­r um choque tanto do lado da oferta como da demanda.

A pasta vê a medida como um impulso necessário à melhora da produtivid­ade, já que as mudanças nas regras fariam menos trabalhado­res deixarem de buscar acordos para demissão com patrões.

Bolsonaro chegou a indicar nos últimos dias também que poderia haver alguma mudança nas regras da multa a ser aplicada quando o trabalhado­r é demitido sem justa causa. Hoje, ele recebe 40% do saldo depositado pela empresa.

Segundo Rodrigues, no entanto, a multa do FGTS não vai ser alterada nesta semana.

Ele também disse que diferentes setores que recebem recursos do FGTS não serão prejudicad­os e citou nominalmen­te habitação, saneamento e infraestru­tura.

Rodrigues evitou, no entanto, dar mais detalhes sobre o plano dizendo que ele requer diferentes tipos de análise por parte da equipe econômica.

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