No país, empresa que falha na proteção de dados tem perda financeira menor
Pesquisa mostra que, por outro lado, Brasil tem um dos maiores volumes de informação vazada
são paulo O Brasil é o quarto local em termos de volume de informação vazada a cada vez que ocorre um incidente de segurança, mas o prejuízo financeiro para as empresas que falharam na proteção dos dados é o menor de todos. E os custos para as companhias atingidas vêm em alta no país.
Os dados são da pesquisa anual da IBM em parceria com o Instituto Ponemon “Cost of a Data Breach”, que, em 2019, avaliou mais de 500 empresas (35 no Brasil) em 16 regiões e países. O relatório foi obtido com exclusividade pela Folha no Brasil.
Segundo o levantamento, a cada incidente no país, foram 26.523 registros de informação vazados, atrás apenas de Oriente Médio (38.800), Índia (35.636) e EUA (32.434). Na edição anterior do estudo, o Brasil era o quinto colocado.
O volume de dados, no entanto, não se reflete em cifras. Cada episódio gera, em média, prejuízos de US$ 1,35 milhão (R$ 5 milhões) para as empresas e uma média de US$ 69 (R$ 260) por registro, os menores números entre as localidades pesquisadas.
João Rocha, diretor de cibersegurança da IBM Brasil, diz que o valor é alto, apesar de parecer baixo na comparação. O montante é calculado em dólar e isso coloca o somatório em real em desvantagem, justifica o especialista.
O estado da transformação digital também pesa. Como os brasileiros estão mais atrasados do que outros países, diz, não há tanto prejuízo com a perda de clientes. Lá fora, ao sentir quebra de confiança numa empresa por má gestão de dados pessoais, há mais opções de concorrentes a quem migrar.
Numa esfera global, aponta o estudo, a maior parte dos prejuízos ligados a um vazamento se refere à perda de negócios (36,2%), seguida por detecção do problema em si (31,1%), reparo de eventuais problemas (27,3%) e notificação de quem teve sua informação disseminada (5,4%).
A tese da evasão de usuários é corroborada por Renato Leite Monteiro, professor do Data Privacy Brasil.
“Mesmo que uma empresa tenha vazado dados, as pessoas preferem a conveniência do serviço a deixar de usar por não garantir segurança adequada”, diz.
Outro aspecto é o legal. No exterior, há um cenário mais robusto de responsabilização de quem é atingido por essas falhas. “No Brasil, ainda não há obrigação de notificação [de pessoas expostas], e as empresas dificilmente vão ser multadas por vazamentos”, diz Monteiro. A expectativa é que a situação mude com a Lei Geral de Proteção de Dados, mas a longo prazo.
As séries históricas dos prejuízos a empresas por vazamentos de dados mostram montantes médios mais altos em 2016 em relação a 2019 tanto globalmente quanto no Brasil. Apesar da oscilação, o diretor da IBM João Rocha diz que o cenário geral é de aumento nos danos financeiros sofridos.
“O que acontece é que você sempre tem uma ação e reação. Quando você tem incidentes, investe mais [e o impacto diminui]. Depois dá uma relaxada e volta a acontecer”, avalia. Há ainda uma transformação nas características dos ataques. “O cibercrime se expande e cria novas formas de atuar”, afirma.
A novidade neste ano é os criminosos passarem a trocar o ransomware —uma espécie de sequestro de informações digitais— pela extorsão.
Eles passaram a roubar os dados das empresas e ameaçar divulgar as informações caso não recebam dinheiro. Pagar aos criminosos pode compensar financeiramente para as vítimas devido a eventuais multas pelo vazamento.
Outro destaque negativo para o Brasil no estudo é o tempo de resposta a incidentes de segurança. Empresas do país são as que mais demoram a conter um vazamento, uma vez identificado: 111 dias, em média.
A demora também acontece para perceber o problema. Os 250 dias médios entre o vazamento e a detecção são menores só do que o tempo que levam empresas do Oriente Médio (279 dias).