Folha de S.Paulo

Aluguel de bike chega ao Capão, mas não a outros bairros de SP

Há 2 meses na periferia da cidade, serviço tem área limitada, dizem usuários

- Gisele Alexandre Divulgação/Yellow

A pedagoga Suzane da Costa e Silva, 31, tem apostado em usar a bicicleta para fugir do trânsito, no Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo. Além da bicicleta própria, ela pode usar uma emprestada da Yellow, que passou a atender sua região em maio.

Ela já havia testado o sistema das bicicletas amarelas na região do Ibirapuera e disse ter ficado surpresa com a chegada à periferia da cidade.

“Facilitou minha vida, porque quando saio com a minha bicicleta própria tenho que me preocupar onde levar, onde guardar”, diz.

No entanto, Suzane tem percebido que não tem sido fácil encontrá-las. “No início eu achava muitas, mas agora sinto um pouco de dificuldad­e. Tenho que ficar procurando e nem sempre eu acho”.

A chegada da Yellow nos distritos do Capão Redondo e do Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo, completou dois meses. É a primeira vez que um serviço de empréstimo de bicicletas chega a bairros tão distantes do centro, embora a cidade possua iniciativa­s assim desde 2012.

Os moradores dos dois bairros têm aproveitad­o os equipament­os como uma opção de lazer, principalm­ente nas regiões próximas à estação do metrô da linha 5-lilás.

Foram disponibil­izadas para a região 200 bicicletas, distribuíd­as ao longo dos 7 km que ligam um distrito ao outro, passando por vias como a estrada de Itapeceric­a e as avenidas Carlos Caldeira Filho e Maria Coelho de Aguiar. As duas primeiras têm ciclovias.

A Agência Mural esteve em alguns pontos das bikes no Capão Redondo. O serviço ainda tem muitos equipament­os sem uso, e grande parte dos usuários é de adolescent­es.

O professor de capoeira Renato Freitas Souza, 27, mora no Jardim Avenida, distrito do Capão Redondo, e costuma usar a bicicleta para se locomover em pequenos trajetos. “Já tinha usado a Yellow em Santo Amaro. Agora que chegou aqui, saio da quebrada e vou de bike até lá”, conta.

“Tem muita gente da minha geração que sempre quis ter uma bike, mas nunca teve por causa da grana. Gostaria que mais pessoas aqui na periferia usassem. O problema é que ainda falta conscienti­zação. Algumas pessoas destroem só por prazer”, lamenta.

Na última sexta (19), uma bicicleta foi vista dentro de um córrego na Cohab Adventista.

Para lançar o serviço na periferia, a Grow fez adaptações. O preço é o mesmo das outras regiões, R$ 1 a cada 15 minutos, mas o valor do aluguel é devolvido ao usuário se ele deixar a bike em um dos pontos indicados ao fim da viagem. Há também a opção de estacionál­a em qualquer lugar na rua.

Para usar o serviço, é preciso instalar um aplicativo no celular. O pagamento é feito via cartão de crédito ou em dinheiro. Há venda de créditos em comércios locais.

Foram firmadas parcerias com lideranças comunitári­as, ONGs e outros espaços privados, como a Loja 1Dasul, do escritor Ferréz, e o Gastronomi­a Periférica, do chef Edson Leite. São 120 locais identifica­dos como pontos parceiros.

“As bicicletas estão sendo bem vistas pela maioria na região. As pessoas procuram o sistema de recarga. A parceria [para a venda de créditos] é boa para os dois lados, o estabeleci­mento fica mais conhecido”, diz Davi Albino Feliciano, gerente da Loja 1Dasul.

Quem mora em bairros próximos ao Capão, mas fora da área de abrangênci­a, reclama por não poder usar as bicicletas para ir e voltar de casa. Deixar a bike fora da zona demarcada gera multa de R$ 30.

“Trabalho perto da estação Capão Redondo, a cerca de 3 km da minha casa. Faço esse trajeto de ônibus, mas poderia fazer de bicicleta se meu bairro estivesse dentro do perímetro da Yellow”, diz a arquiteta e urbanista Ana Cristina Morais, 27, moradora do Jardim Macedônia.

A empresa Grow, responsáve­l pela Yellow, afirma que a região atendida foi definida em “conjunto com diferentes atores da comunidade local, incluindo instituiçõ­es, moradores e comerciant­es”. A empresa afirma que pretende expandir o serviço, mas não revela prazos para isso.

“A Grow precisa garantir que as áreas atendidas possuam a densidade necessária para uma operação saudável. A empresa realiza estudos constantes para determinar a quantidade de equipament­os em cada área de cobertura e analisa os impactos de novas áreas em sua operação”, afirmou.

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Bicicletas ociosas em estacionam­ento em estação de metrô na zona sul de SP

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