Folha de S.Paulo

Após cortes de patrocínio, Anima Mundi começa em SP graças a crowdfundi­ng

- Ivan Finotti

Depois de correr o risco de ser cancelado em sua 27ª edição e ser salvo por uma campanha de financiame­nto coletivo e por empresas da área, o festival de animação Anima Mundi terminou com 15 mil visitantes no Rio de Janeiro, na semana passada.

Foi uma média não muito diferente da de edições recentes, a despeito do fato de o número de dias no Rio ter caído pela metade, de dez para cinco. Em 2018, o festival atraiu 40 mil pessoas no Rio e em São Paulo. Em 2017, foram 35 mil.

Nesta terça, o festival começa na capital paulista e vai até o domingo. Serão exibidos mais de 335 filmes, entre curtas e longas, com as mais variadas técnicas e temas.

O quase cancelamen­to ocorreu após o governo federal decidir interrompe­r o patrocínio de suas empresas, como Petrobras e BNDES, para eventos culturais. Esse tipo de financiame­nto “não deve estar a cargo de uma petrolífer­a estatal”, escreveu o presidente Jair Bolsonaro em uma rede social em fevereiro deste ano.

Dito e feito, em abril a Petrobras anunciou o fim do dinheiro para 13 eventos, como o Anima Mundi e os festivais de cinema do Rio e de Brasília.

“Pensamos em não fazer”, diz Cesar Coelho, um dos quatro organizado­res, que ajudou a fundar a mostra de animação, em 1993. “Mas já havíamos adquirido empréstimo­s para começar a tocar a edição.”

Um Anima Mundi custa entre R$3 milhões e R$ 3,5 milhões por ano, conta. “E o patrocínio da Petrobras e do BNDES em geral era responsáve­l por 80% desse orçamento.” A saída foi readequar o evento e correr, em cima da hora, atrás do prejuízo.

A edição sofreu vários cortes. As sessões caíram de 50 para 30; as oficinas, de 7 para 2, sobrando só as de massinha e de zootropia; o número de dias do evento caiu de 15 para 10; foram cortados os convidados internacio­nais; as quase 20 salas foram reduzidas a 13 (as menores) e a equipe foi drasticame­nte enxugada. “Cada um está fazendo o trabalho de três”, diz Coelho.

Com isso, o orçamento caiu para R$ 1,5 milhão. Mesmo assim, de onde tirar? Em primeiro lugar, o mercado veio em socorro. Canais de TV como Gloob, Cartoon Network e Canal Brasil e a Mauricio de Sousa Produções patrocinar­am ou fizeram parcerias importante­s. Órgãos estatais da esfera municipal, como a SPCine e a Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, também prestaram auxílio.

“Aí botamos a boca no trombone”, diz Coelho, se referindo à campanha de financiame­nto para a população. O crowdfundi­ng no site Benfeitori­a pediu R$ 400 mil e, em 45 dias, conseguiu reunir R$ 440 mil.

“Foi incrível. Além de pessoas físicas, recebemos valores de produtoras de animação, e não só de Rio e São Paulo. Algumas deram R$ 10 mil.”

Para o futuro, Coelho acredita que o modelo de negócios do Anima Mundi vai incorporar definitiva­mente o crowdfundi­ng.

“Os fãs de animação e as pessoas que curtem o festival ficam empoderado­s. É a primeira vez que eles e o mercado estão bancando o evento. Não é o nosso maior festival, mas é o mais importante.”

Anima Mundi

De 24/7 a 28/7, em vários locais de

São Paulo. Abertura: ter (23), às

19h30, no Auditório Ibirapuera(av. Pedro Álvares Cabral, s/nº). Quanto: R$ 9 a R$ 18 (grátis no Auditório Ibirapuera e no Instituto Itaú Cultural). Programaçã­o completa disponível no site animamundi.com.br

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