PF prende quatro suspeitos de hackear Moro e Deltan
Órgão não confirma se grupo está ligado a vazamento de diálogos da Lava Jato
A Polícia Federal prendeu ontem três homens e uma mulher sob suspeita de hackear telefones de autoridades, incluindo o ministro da Justiça, Sergio Moro, e Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato. Não foram divulgados detalhes da investigação.
A Folha apurou que a PF chegou aos suspeitos, nas cidades de São Paulo, Araraquara (SP) e Ribeirão Preto (SP), por meio de perícia que rastreou a invasão. Entre os presos estão o DJ Gustavo Santos, 28, e sua mulher, Suelen. A mãe de Gustavo acredita em erro da polícia.
Até a conclusão desta edição, a operação ainda não havia conseguido estabelecer com exatidão se o grupo investigado em São Paulo tem alguma ligação com o vazamento de mensagens privadas dos procuradores da Lava Jato, obtidas pelo site The Intercept Brasil.
O diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, informou ontem ao Supremo Tribunal Federal que não há nenhum inquérito em curso para apurar a conduta de Glenn Greenwald, editor do Intercept. O jornalista afirma que obteve o material de uma fonte anônima.
BRASÍLIA A Polícia Federal prendeu nesta nesta terçafeira (23) quatro pessoas sob suspeita de hackear telefones de autoridades, incluindo o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
A PF não divulgou detalhes da investigação.
Foram cumpridas 11 ordens judiciais, das quais 7 de busca e apreensão e 4 de prisão temporária nas cidades de São Paulo, Araraquara (SP) e Ribeirão Preto (SP). Foram presos três homens e uma mulher, depois transferidos para Brasília para prestar depoimento à Polícia Federal.
A operação se chama Spoofing, termo que, segundo a PF, designa “um tipo de falsificação tecnológica que procura enganar uma rede ou uma pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável”.
A Folha apurou que a PF chegou aos suspeitos por meio da perícia criminal federal, que conseguiu rastrear os sinais do ataque aos telefones. Para investigadores, o grau de capacidade técnica dos hackers não era alto.
A investigação, segundo a reportagem apurou, ainda não conseguiu estabelecer com exatidão se o grupo investigado em São Paulo tem ligação com o pacote de mensagens privadas dos procuradores da Lava Jato obtido pelo site The Intercept Brasil.
Uma possível relação entre os dois assuntos não foi confirmada oficialmente pela Polícia Federal. Segundo o órgão, “as investigações seguem para que sejam apuradas todas as circunstâncias dos crimes praticados”.
O advogado Ariovaldo Moreira, que defende dois dos presos —Gustavo Henrique Elias Santos, 28, e a mulher dele, Suelen—, disse desconhecer o envolvimento dos clientes com atividades de hackers.
Santos trabalha como DJ na cidade e já respondeu a processo sob acusação de porte ilegal de arma. A prisão surpreendeu sua família, que diz acreditar em um erro da investigação.
“Estou chocada, estou tremendo, tenho certeza que meu filho não está envolvido nisso, não”, disse à Folha Marta Elias Santos. “Eu desconheço [o suposto envolvimento], não passa na minha cabeça uma coisa dessa.”
A reportagem não confirmou os nomes dos outros dois suspeitos.
As ordens judiciais foram expedidas pelo juiz federal de Brasília Vallisney de Souza Oliveira. O delegado da PF à frente do caso é Luís Flávio Zampronha, que em 2005 e 2006 presidiu o inquérito que apurou o escândalo do mensalão.
A investigação em curso foi aberta em Brasília para apurar, inicialmente, o ataque a aparelhos de Moro, do juiz federal Abel Gomes, relator da Lava Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), do juiz federal no Rio Flávio Lucas e dos delegados da PF em São Paulo Rafael Fernandes e Flávio Reis.
Segundo investigadores, a apuração mostrou que o celular de Deltan Dallagnol também foi alvo do grupo. O caso de autoridades da Lava Jato em Curitiba está sendo tratado pela PF no Paraná.
Mensagens reveladas pelo site Intercept desde 9 de junho apontam colaboração entre o então juiz e Deltan quando ambos atuavam em Curitiba. Em 23 de junho, a Folha começou a publicar reportagens que exploram o material obtido pelo site.
Em audiência no Senado, Moro deu detalhes do ataque hacker de que foi vítima. Afirmou que, em 4 de junho, por volta das 18h, recebeu ligação de seu próprio celular três vezes.
Segundo a Polícia Federal, os hackers não roubaram dados do aparelho do ministro.
Moro afirmou ainda que deixou de usar o Telegram, aplicativo do qual as mensagens vazadas foram extraídas, em 2017. Após notícias de ataques hackers nas eleições dos Estados Unidos, ele começou a desconfiar da segurança do aplicativo de origem russa.
O ministro diz que apagou o Telegram de seu aparelho e que não tem mais os arquivos das conversas. Em junho, a força-tarefa da Lava Jato no Paraná divulgou nota afirmando que os procuradores da operação desativaram suas contas no aplicativo e excluíram os históricos de conversas após sofrerem ataques hackers neste ano.
Segundo o Telegram, se o usuário não acessar o aplicativo por seis meses, a conta é destruída automaticamente.
A empresa também afirma que, caso um usuário tenha deletado a conta, todos os dados, como mensagens, grupos e contatos associados, são apagados do sistema.