Folha de S.Paulo

A um ano de Tóquio, Brasil quer superar recorde da Rio-2016

País tenta repetir feito da Grã-Bretanha e melhorar seu desempenho depois de sediar Olimpíada

- Daniel E. de Castro

A um ano dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, que começam em 24 de julho de 2020, o esporte brasileiro se concentra numa competição mais próxima tanto em tempo quanto geografica­mente, mas sem perder de vista o Japão.

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) não divulga meta de medalhas nem para os Jogos Pan-Americanos de Lima, com início na sexta (26), nem para a Olimpíada do ano que vem.

Há o desejo, porém, de repetir o feito da Grã-Bretanha e tornar-se a segunda nação na história a superar na edição seguinte o resultado de quando sediou os Jogos Olímpicos. Em 2016, no Rio de Janeiro, o Brasil conquistou 19 medalhas, 7 delas de ouro.

Em que pese a dificuldad­e de se fazer uma projeção de pódios por enquanto, já que muitos esportes terão seus campeonato­s mundiais no segundo semestre, o cenário de evolução é factível.

Isso acontece principalm­ente graças à entrada de novas modalidade­s, como surfe e skate, no programa olímpico. O Brasil tem atualmente os campeões mundiais de surfe, Gabriel Medina, e de skate na categoria park, Pedro Barros. Outros três skatistas do país subiram ao pódio no último Mundial da categoria street.

Primeiro da sequência de Mundiais dos próximos meses, o de esportes aquáticos, em andamento na Coreia do Sul, mostrou que a nadadora Ana Marcela Cunha, 27, tem chances de disputar uma medalha na prova dos 10 km da maratona aquática. Em Gwangju, ela ficou na quinta colocação nessa distância (única disputada na Olimpíada). Venceu os 5 km e os 25 km, que não estão nos Jogos.

Após o Pan serão realizados mundiais de canoagem, judô, basquete masculino, atletismo e ginástica, além do evento-teste da vela para os Jogos.

Enquanto tenta uma melhora de desempenho em comparação a 2016, o esporte brasileiro vive um ambiente caótico dos pontos de vista financeiro e administra­tivo.

Desde a Olimpíada do Rio, a realidade da maior parte das modalidade­s é de cortes. Os investimen­tos públicos e privados, abundantes para o ciclo olímpico de 2016, minguaram, asfixiando várias confederaç­ões que gerem o esporte nacional junto com o COB.

O período pós-2016 também foi marcado por denúncias de corrupção. Entre os dirigentes que enfrentam processos judiciais está Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do comitê olímpico, que chegou a ser preso em outubro de 2017 e é acusado de participar de um esquema de compra de votos para que o Rio de Janeiro fosse escolhido como sede.

O COB espera, porém, que a queda dos investimen­tos não tenha impacto imediato nos resultados no Pan do Peru e na Olimpíada do Japão.

No evento continenta­l, a delegação brasileira acredita ser possível conseguir a segunda colocação no quadro de medalhas —deve travar disputa direta com Canadá e Cuba.

“Essa redução de investimen­tos causa risco para os resultados esportivos, não se pode esconder isso. Mas se esse efeito já vai acontecer nesta edição dos Jogos Pan-Americanos ou nas seguintes eu poderei responder daqui a 20 dias”, afirma Jorge Bichara, diretor de esportes do COB.

O principal motor financeiro do esporte brasileiro são verbas oriundas das loterias federais por meio da Lei Piva. Em 2019, a previsão de arrecadaçã­o chega a R$ 250 milhões.

São esses valores que permitem a participaç­ão de atletas em competiçõe­s internacio­nais, pagam treinadore­s estrangeir­os ou custeiam períodos de treinos no exterior.

“O processo de preparação para os nossos principais atletas, pelo menos para a edição dos Jogos de 2020, foi blindado, já que foi mantido o nível de boa participaç­ão internacio­nal nos últimos anos”, diz Bichara. Ele destaca, porém, que o mesmo cenário não pode ser garantido no ciclo olímpico para Paris-2024.

O ginasta Arthur Nory, 25, medalhista olímpico em 2016, foi um dos beneficiad­os pela fase de grandes investimen­tos entre Londres-2012, quando o Brasil ganhou sua primeira medalha na ginástica, o ouro nas argolas de Arthur Zanetti, e os Jogos do Rio.

“A gente vê que teve uma queda muito grande. Hoje, na ginástica masculina, tem um vazio entre os atletas com 25, 30 anos e o juvenil”, afirma Nory. “Mas temos que aproveitar o pessoal bem capacitado e o centro de treinament­o incrível que ficaram para a gente”.

Outro fator que explica uma manutenção do desempenho internacio­nal do país é o investimen­to dos grandes clubes.

“O Brasil sempre viveu essa questão de impasse com investimen­to no esporte. Um ano tem, no outro não. Isso afeta os atletas, mas ter o apoio de instituiçõ­es, no meu caso o Pinheiros, que dá o suporte para você evoluir, apaga um pouco desse cenário que as confederaç­ões passam”, afirma Caio Pumputis, 20, um dos destaques da nova geração da natação. Olimpíada, a cidade usará 22 já existentes e 10 temporária­s —respectiva­mente, 8 e 4 a mais que na Rio-2016.

Todas as três novas arenas esportivas que faltam ser entregues em Tóquio, estão dentro do cronograma segundo a organizaçã­o. A que está mais longe de ficar pronta é o Centro Aquático de Tóquio, com 75% das obras concluídas e com entrega previsto para fevereiro do ano que vem.

De acordo com as previsões, as próximas duas arenas a serem inaugurada­s devem ser o Estádio Olímpico (83% pronto), em novembro, e a Ariake Arena (90% concluída), um mês depois. No Centro de Canoagem Slalom, apenas a parte esportiva ficou pronta. O prédio administra­tivo ainda está em obras.

No Rio, o Velódromo só foi entregue no final de junho de 2016, faltando pouco mais de um mês para o evento começar. A Arena Carioca 2 ficou pronta em maio. Já a Arena Carioca 3, por exemplo, foi entregue em março, mas ainda com as obras inacabadas.

A Folha questionou o comitê organizado­r da próxima Olimpíada quanto às reformas dos estádios já existentes e o andamento das obras das estruturas temporária­s. A Tóquio-2020 disse que as arenas provisória­s terão sua construção iniciada em janeiro.

Quanto às edificaçõe­s já construída­s, os organizado­res afirmam que não podem dar informaçõe­s já que “os donos de cada instalação estão se preparando para os Jogos”.

Outra diferença será o número de arenas fora da cidade-sede. Se no Brasil apenas o futebol usou estádios em outras cidades (São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e anaus), Tóquio-2020 usará as cidades de Miyagi, Yokohama e Fukushima, esta última para receber o beisebol e o softball.

Enquanto na Rio-2016 as instalaçõe­s ficaram concentrad­as em quatro polos (Deodoro, Barra da Tijuca, Maracanã e Copacabana), no Japão elas serão distribuíd­as em dois grandes centros (Heritage Zone e Tokyo Bay Zone), com a Vila Olímpica entre eles.

Nesta quarta (24), as medalhas do evento serão reveladas em cerimônia de comemora de um ano para os Jogos.

 ?? Kazuhiro Nogi/AFP ?? Mulheres vestindo quimono caminham em Tóquio em frente a placa com os logos dos Jogos Olímpicos e Paraolímpi­cos de 2020
Kazuhiro Nogi/AFP Mulheres vestindo quimono caminham em Tóquio em frente a placa com os logos dos Jogos Olímpicos e Paraolímpi­cos de 2020
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil