Folha de S.Paulo

Boris Johnson vence disputa e será novo líder britânico

Condução da saída do Reino Unido da União Europeia determinar­á sobrevida de seu mandato

- Lucas Neves

Ex-prefeito de Londres e ex-secretário de Relações Exteriores, Boris Johnson venceu a eleição interna do Partido Conservado­r e substituir­á Theresa May como premiê do Reino Unido. De estilo excêntrico, marcou sua campanha pela defesa de um brexit sem concessões —o fracasso no processo de saída da União Europeia levou à queda de May.

O deputado britânico Boris Johnson, 55, é o novo líder do Partido Conservado­r e deverá se tornar primeiromi­nistro do Reino Unido nesta quarta (24), substituin­do a correligio­nária Theresa May.

O resultado da eleição interna foi anunciado na manhã desta terça (23).

Johnson derrotou o atual chanceler, Jeremy Hunt, na etapa final da disputa por 66% a 34% dos votos. No começo da corrida, em junho, havia dez candidatos, mas o vencedor nunca foi ameaçado.

Segundo o protocolo, May deve ter uma audiência com a rainha Elizabeth 2ª na tarde de quarta para entregar o cargo e recomendar Johnson como seu sucessor.

Conhecido pelo estilo (para alguns demasiado) informal, por gafes e projetos frívolos e onerosos (dos quais o skyline de Londres está cheio), o deputado ascende à chefia de governo com a promessa de solucionar a maior crise da política britânica em décadas: como levar a cabo o brexit, a saída da União Europeia, decidida em plebiscito há mais de três anos.

À época, Johnson foi um dos líderes do Leave (sair) e hoje é visto como grande fiador da separação. Na campanha, garantiu que, uma vez eleito, tiraria Londres do bloco em 31 de outubro (terceira data-limite para a separação), acontecess­e o que fosse.

Isso quer dizer que ele não descarta o “brexit duro”, sem acordo com a UE que prevê, entre outras coisas, uma fase de transição para que os dois lados se acostumem com o novo status da relação.

Apesar de se vender como um outsider, o novo líder dos conservado­res participa da elite política do país há mais de uma década. Formado na Universida­de de Oxford, tradiciona­l celeiro de premiês, ele deixou em 2001 uma longa carreira de jornalista e escritor para ser eleito deputado.

Depois disso, foi prefeito de Londres —um reduto trabalhist­a— entre 2008 e 2016 e ministro de Relações Exteriores de May entre 2016 e 2018.

Em pronunciam­ento curto após a divulgação do resultado nesta terça, mais uma vez prometeu finalizar o brexit até 31 de outubro e “reenergiza­r o país” com uma abordagem otimista para problemas.

“Como um gigante adormecido, vamos despertar e nos livrar das amarras da falta de autoconfia­nça e do pessimismo com educação melhor, infraestru­tura melhor, mais polícia e internet de banda larga por fibra óptica em cada casa”, disse. “Vamos unir este país fantástico e fazê-lo avançar.”

Ele falou ainda na importânci­a de reconcilia­r o anseio por cooperação internacio­nal e livre-comércio com o desejo de autonomia dos governos nacionais.

Nos últimos dias, Johnson recebeu sinais de que enfrentará oposição, inclusive de alas moderadas de seu partido, se optar pela via da ruptura. O Parlamento manobrou para dificultar a suspensão temporária de suas atividades pelo Executivo.

O temor é o de que ele use um recesso para passar por cima dos deputados e impor uma saída não negociada. O Legislativ­o rejeitou três vezes o acordo proposto por May e, quando instado a propor solução alternativ­a, não chegou a consenso. Mas se há um entendimen­to consolidad­o é o de que a despedida britânica da UE não deve ser abrupta.

Em paralelo, vários ministros do governo May anunciaram que deixariam seus postos caso a vitória do ex-chanceler se confirmass­e, entre eles Philip Hammond (Finanças) e David Gauke (Justiça).

No setor dos “brexiteers”, que defendem um divórcio sem concessões à Europa, também há expectativ­a em relação à concretiza­ção do discurso linha-dura de Johnson.

Críticos e apoiadores aguardam as nomeações ministeria­is e o discurso inaugural para definir seus próximos passos, mas ele deve gozar de uma espécie de “salvo-conduto” até setembro, quando o Parlamento volta do recesso.

O novo líder talvez também queira analisar com atenção o relatório divulgado no último dia 18 pelo Escritório de Responsabi­lidade Orçamentár­ia, que prevê recessão em 2020, em caso de “no deal” (saída sem acordo). Segundo o órgão, nesse cenário, o PIB britânico cairia 2,1%, e o valor da libra depreciari­a em 10%.

De seu lado, a União Europeia estaria pronta para oferecer uma “extensão técnica” do prazo-limite para o brexit. Mas o adiamento também poderia ser vendido como período extra de preparação para uma separação sem pacto.

Após o anúncio desta terça, o chefe das negociaçõe­s pelo lado europeu, Michel Barnier, escreveu em uma rede social que espera trabalhar com o novo líder para agilizar a ratificaçã­o do acordo pelo Parlamento britânico.

“Estamos prontos para alterar a declaração que delineia a nova parceria [entre europeus e britânicos]”, afirmou.

Afora o brexit, que sugou a vida política nacional nos últimos três anos, Johnson terá que encontrar uma saída rápida para a escalada da crise com o Irã, que apreendeu um cargueiro de bandeira britânica na semana passada no estreito de Hormuz, em retaliação pelo confisco de uma embarcação de Teerã, no começo de julho.

O pano de fundo aqui é a saída dos EUA, sob Donald Trump, do acordo nuclear com o Irã. Desde o ano passado, Reino Unido, França e Alemanha tentam salvar o pacto.

Nesta terça, o presidente americano parabenizo­u Johnson pela vitória e escreveu na internet que ele será ótimo como primeiro-ministro.

Nas redes sociais, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro também parabenizo­u Johnson e disse que ele foi eleito com o compromiss­o de “respeitar os desígnios do povo britânico”.

“Conte com o Brasil na busca por livre-comércio, na promoção da prosperida­de para nossos povos, e na defesa da liberdade e da democracia.”

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Tolga Akmen/AFP O novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, deixa seu escritório em Londres nesta terça

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