Folha de S.Paulo

Guedes agora diz que FGTS vai ter liberação anual

Governo deve anunciar hoje regras para retiradas; porta-voz confirma limite de R$ 500 neste ano

- Fábio Pupo e Talita Fernandes Colaborara­m Gustavo Uribe e Julio Wiziack

O governo decidiu que a medida de flexibiliz­ação de saques do FGTS vai dar ao trabalhado­r a possibilid­ade de sacar recursos anualmente, e não apenas uma vez. Além disso, serão contemplad­as tanto contas ativas como inativas.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a iniciativa vai movimentar cerca de R$ 30 bilhões neste ano. Até o ano que vem, os recursos chegarão a R$ 42 bilhões.

“Eu tinha falado que ia ser em torno de R$ 42 bilhões. Vai ser isso mesmo. Deve ser uns R$ 30 bilhões neste ano, uns R$ 12 bilhões no ano que vem. Só que vocês vão ver que vai ter novidade. Há coisas mais interessan­tes”, disse o ministro.

Segundo Guedes, a medida de permissão será recorrente ao longo do governo.

“O governo passado soltou só inativos. Nós vamos soltar [contas] ativas e inativas. Eles soltaram uma vez só. Nós vamos soltar para sempre. Todo ano vai ter”, afirmou após a cerimônia de lançamento do novo mercado de gás, no Palácio do Planalto.

De acordo com a pasta, o fracioname­nto dos valores atende a pedidos da Caixa. O banco vê dificuldad­es operaciona­is em liberar tantos recursos em poucos meses.

O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse à Folha na semana passada que uma liberação de saques demandaria ajustes operaciona­is por parte do banco e as retiradas poderiam se estender por meses e até um ano. A liberação poderia ficar pronta em cerca de um mês.

O governo sofreu ainda pressões do setor de construção civil. Como o FGTS financia o programa Minha Casa Minha Vida, empresário­s manifestar­am ao Palácio do Planalto receios sobre um eventual corte.

Após reuniões de representa­ntes do setor com o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que o financiame­nto à habitação popular não será prejudicad­o.

O porta-voz da Presidênci­a da República, Otávio Rêgo Barros, disse que o governo federal deve limitar em cerca de R$ 500 o saque neste ano.

A medida deve ser liberada por conta. Se um trabalhado­r tiver diferentes contas, poderá sacar mais do que esse valor.

Rêgo Barros confirmou também que, neste momento, o governo não vai propor a redução da multa de 40% do saldo pago a trabalhado­res demitidos sem justa causa. No fim de semana, Bolsonaro criticou o percentual.

Para mudar a multa, seria necessário aprovar uma lei complement­ar que regulament­asse o tema com o voto da maioria absoluta dos parlamenta­res na Câmara e no Senado.

A decisão por saques anuais no FGTS ficou alinhada à preferênci­a do Ministério da Economia, que buscava uma mudança permanente (e não pontual) no FGTS.

O objetivo da cúpula da pasta era se distanciar de críticas de que a medida poderia proporcion­ar apenas um voo de galinha no cresciment­o do país (ou seja, um cresciment­o artificial e pontual).

O saque tanto de contas ativas como inativas deverá sempre ocorrer no aniversári­o do trabalhado­r.

As mudanças também deve fazer o trabalhado­r ser obrigado a tomar uma decisão. Caso comece a fazer os saques anuais, perderia direito a retirar os recursos de uma vez quando fosse demitido.

Internamen­te, a equipe econômica reconhece que a lentidão na retomada da economia e a crise fiscal que reduziu investimen­tos públicos foram os fatores responsáve­is por motivar o governo a estudar as liberações.

A estimativa oficial de cresciment­o de 2019 caiu de 2,5% para 0,81%. O objetivo é principalm­ente estimular o consumo das famílias.

O secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, defendeu que a medida teria de ser sustentáve­l.

“Entendemos que boa parte do problema fiscal no qual estamos envolvidos, grande parte desses erros aconteceu por se exagerar do lado da demanda. Buscamos agora medidas que permitem o cresciment­o do PIB de forma sustentáve­l”, afirmou.

Entre as mudanças estudadas para o fundo, está até a de agentes privados comprarem cotas do FGTS para que seja elevada sua rentabilid­ade. Mas, segundo uma fonte da equipe econômica, essa mudança deve ficar de fora dos anúncios desta quarta (24).

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Pedro Ladeira/Folhapress Paulo Guedes (Economia), o presidente Jair Bolsonaro e Bento Albuquerqu­e (Minas e Energia), no Planalto
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