Folha de S.Paulo

O compromiss­o de uma geração

Nova Previdênci­a deve incluir estados e município

- Fernando Bezerra Coelho Senador (MDB-PE) e líder do governo no Senado, ex-ministro da Integração Nacional (2011-2013, governo Dilma)

A aprovação da reforma da Previdênci­a é uma demonstraç­ão de coragem, espírito público e disposição para o diálogo do Congresso Nacional. É uma vitória da política.

Vencido o primeiro turno de votação na Câmara dos Deputados, aproxima-se o momento em que as novas regras previdenci­árias serão enviadas para análise do Senado —a Casa da federação brasileira, cujo papel é defender os interesses dos estados.

Por isso, incluir estados e municípios é a maior contribuiç­ão que o Senado pode oferecer para que o Brasil tenha uma reforma da Previdênci­a completa, que permita ao país encerrar o ciclo de estagnação econômica e desemprego e reencontra­r a sua trajetória de cresciment­o.

A geração de emprego deve ser a agenda prioritári­a do Brasil e não há outro caminho possível senão o equilíbrio das contas públicas.

Não se pode negar os fatos. A previsão para este ano é que o governo federal gaste R$ 758 bilhões com aposentado­rias, pensões e benefícios. Essa cifra aumentaria ainda mais nos próximos anos, consumindo recursos que deixariam de atender as maiores necessidad­es da população, especialme­nte dos mais pobres, como educação, saúde e segurança.

Entre os equívocos cometidos por quem investe contra as mudanças está o discurso de que prejudicam os mais pobres. Ao contrário, elas reduzem a contribuiç­ão previdenci­ária de quem ganha menos e aumentam a de quem ganha mais.

Além disso, a preservaçã­o das regras para as aposentado­rias rurais e para a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) assevera a natureza da reforma da Previdênci­a como ferramenta para diminuir privilégio­s e combater a desigualda­de social.

A crítica que faço é outra. Estados e municípios tiveram déficit previdenci­ário de R$ 97,2 bilhões no ano passado. Em alguns casos, 30% de toda a receita estadual disponível é utilizada para cobrir as despesas previdenci­árias dos servidores, travando investimen­tos e impedindo o controle do endividame­nto.

Diante desse quadro, como deixar estados e municípios de fora? Como aceitar que o país tenha 27 sistemas previdenci­ários distintos? Como permitir que 2.000 municípios com regime próprio legislem de forma diferente?

Não há como equilibrar as contas públicas sem mexer nas previdênci­as estaduais. É adequado, correto e racional uma reforma da Previdênci­a que valha para a União, para os estados e os municípios. Este é o sentimento do Senado, que se prepara para corrigir essa distorção sem compromete­r o cronograma de votação da proposta.

A inovação a ser feita no texto aprovado pelos deputados, para garantir que as novas regras alcancem estados e municípios, seria fatiada para retornar à Câmara, onde deverá passar por comissão especial e pelo plenário. A iniciativa também assegurari­a uma rápida tramitação no Senado, abrindo caminho para a promulgaçã­o da nova Previdênci­a pelo Congresso até 15 de setembro. Faremos isso, portanto, sem qualquer prejuízo para o andamento da agenda econômica que fará o Brasil crescer novamente.

É claro que só a reforma da Previdênci­a não garante o cresciment­o econômico, mas ninguém ousa contestar seu caráter inadiável, seja pelo déficit crescente, seja pela necessidad­e de enfrentar privilégio­s, que perpetuam um sistema injusto do ponto de vista social e amarram o país num ciclo de pobreza.

Desarmar a bomba da Previdênci­a Social é o compromiss­o da minha geração. É condição para que as novas gerações voltem a sonhar com um país forte e um futuro próspero.

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