Folha de S.Paulo

Caso pode afetar comércio de milho com maior comprador

- Tássia Kastner, Arthur Cagliari e Ricardo Della Coletta

são paulo e brasília OIrãéo maior comprador do milho brasileiro no exterior, e o imbróglio que impede o abastecime­nto de navios em Paranaguá tem potencial para interrompe­r quase 30% das exportaçõe­s do grão.

Apenas em 2018, as vendas ao exterior somaram 22 milhões de toneladas. Dessas, 6,4 milhões foram para o Irã. No primeiro semestre deste ano, segundo dados do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuár­ia), outras 2,4 milhões de toneladas já foram embarcadas ao país.

Das quase 100 milhões de toneladas de milho produzidas nesta safra, 76 milhões foram na chamada safrinha, cuja colheita se concentra nos meses de junho e julho. Por isso, as exportaçõe­s ocorrem em maior volume no segundo semestre —no primeiro, os portos são ocupados por soja.

Quando os embarques deveriam ganhar corpo, o impasse se instalou, a partir da recusa da Petrobras de abastecer os navios pelo receio de sofrerem sanções.

O questionam­ento de entidades que representa­m o setor produtivo está no embargo a alimentos, que seriam imunes a punições.

“Não há razão para embargo de produto agrícola”, diz Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultur­a e atual presidente da Abramilho (Associação Brasileira de Produtores de Milho).

Medindo palavras, Paolinelli afirma não saber se é prudente a entidade brigar com a Petrobras sobre o abastecime­nto do navio iraniano.

“O milho é um alimento importante, e o Irã é o maior comprador”, diz.

Assim como o representa­nte da Abramilho, a AprosojaMT também se move com cautela. Antônio Galvan, produtor e presidente da associação, diz que a entidade ainda não acionou órgão de pressão, como a Frente Parlamenta­r de Agricultur­a na Câmara ou a CNA (Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil).

Ele afirma, porém, que os preços do milho começaram a cair no estado, o que atribuiu ao impasse.

Segundo Galvan, a baixa chegou a R$ 2 a saca, cotada a cerca de R$ 23. No mesmo período, o dólar também caiu, o que afeta os preços do cereal.

Mato Grosso é o principal produtor de milho do país e já colheu quase 90% da safra deste ano, que deve se encerrar nas próximas semanas.

As vendas também estão avançadas —quase 80% da safra do estado havia sido negociada até o começo do mês, ainda de acordo com o Imea.

A Anec, que representa os exportador­es, principalm­ente de soja e milho, não quis comentar o impasse. No Paraná, a Faep, federação que representa produtores do estado, vê prejuízos ao agronegóci­o.

Afirma que o milho embarcado pode perder qualidade e, no futuro, ser devolvido.

A entidade reforçou que “as sanções econômicas contra o Irã, estabeleci­das pelos EUA e em alinhament­o com os interesses do governo federal, não devem ser aplicadas em caso de transporte de alimentos, assim como de medicament­os e equipament­os médicos.

“O transporte de comida está previsto no que se encaixa como ‘exceção humanitári­a’”, afirmou a entidade, em nota.

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