Folha de S.Paulo

Retirada de R$ 500 cobre só 15% da dívida média do brasileiro

- Júlia Moura

O limite de R$ 500 de saque do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que deve ser anunciado oficialmen­te nesta quarta-feira (24) pelo governo, não chega perto do valor médio da inadimplên­cia do brasileiro.

Segundo dados do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederaç­ão Nacional de Dirigentes Lojistas) de junho, o inadimplen­te deve, em média, R$ 3.252,70 —valor próximos dos R$ 3.000 de limite de saque que chegaram a ser especulado­s. A maior parte dos atrasos se concentra em contas de água e luz.

Até abril deste ano, cerca de 41% da população adulta, 62,6 milhões de brasileiro­s, estava no vermelho.

Para efeito de comparação, apenas o equivalent­e à metade dessa população tem carteira assinada. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos) de maio, 32,1 milhões de brasileiro­s têm emprego formal.

Como o valor liberado pelo governo para saque do FGTS é apenas 15% da dívida média, a quantia provavelme­nte será usada para consumo, apontam economista­s.

“As pessoas interpreta­m isso como algo que veio do nada e gastam sem peso na consciênci­a. Mas esse dinheiro não caiu do céu, é um dinheiro do seu bolso, que no futuro você teria”, afirma José Vignoli, educador financeiro do SPC.

A aposta do governo com a medida é estimular o consumo das famílias.

“Essa notícia, que era para ser positiva, acaba sendo negativa, pela frustração quanto ao montante liberado. Não é esse dinheiro que vai mudar a situação financeira das famílias”, afirma Thiago Xavier, economista da consultori­a Tendências.

“Talvez seja um alívio, a depender das condições de saque, mas talvez nem chegue a ser um voo de galinha.”

Em 2017, a liberação do FGTS injetou R$ 44 bilhões na economia e adicionou 0,7 ponto percentual ao cresciment­o do PIB (Produto Interno Bruto).

“Em 2017, como a maior parte dos saques era de até R$ 1.500, houve um momento imediato de limpeza, com a diminuição no endividame­nto da família. Mas foi algo momentâneo, e corre-se o risco de acontecer o mesmo agora”, diz Vignolli.

Naquele ano, o número de devedores e de dívidas teve quedas acentuadas nos períodos de saque do FGTS, de março a julho, e nos meses sequentes. A inadimplên­cia voltou a crescer em abril do ano passado.

Segundo o educador financeiro, mesmo com a quantia de R$ 500, a primeira opção deve ser quitar dívidas. Não apenas pagar parcelas atrasadas, mas negociar o total devido e tentar saldar de uma vez esta pendência.

Devem ser priorizada­s as dívidas com os maiores juros. Caso não seja possível abater as que crescem mais rápido de uma vez com o FGTS, déficits menores, mas que podem ser pagos de uma vez, têm prioridade.

“É muito importante negociar contas em atraso para pagar o mínimo possível, não apenas chegar e pagar”, afirma Ricardo Teixeira, coordenado­r do MBA de gestão financeira da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Depois, se há algum financiame­nto, Teixeira recomenda pagar as próximas parcelas com desconto, se ele for vantajoso. Caso o valor da parcela aplicado renda mais do que a dedução obtida, a antecipaçã­o não é benéfica.

Caso não haja parcelas em aberto, deve-se considerar um fundo para emergência­s. Ou seja, aplicar essa quantia em renda fixa que possa ser resgatada a qualquer momento, como poupança, CDB (Certificad­o de Depósito Bancário) e fundos DI.

Apenas com todas as alternativ­as acima cobertas, o consumo passa a ser uma opção, dizem os economista­s.

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