Folha de S.Paulo

Bolsonaro cria comitê para encerrar monopólio no gás e fazer preço cair 40%

Decreto estabelece órgão interminis­terial; para conseguire­m empréstimo­s com União, estados serão estimulado­s a privatizar

- Julio Wiziack, Gustavo Uribe e Talita Fernandes

O presidente Jair Bolsonaro assinou, nesta terçafeira (23), um decreto que cria um comitê interminis­terial para coordenar a implementa­ção de uma série de medidas que levarão à abertura do mercado de gás, hoje concentrad­o pela Petrobras.

O plano prevê uma redução de pelo menos 40% no preço do gás nos primeiros dois anos e investimen­tos na construção da infraestru­tura de transporte e distribuiç­ão de gás da ordem de R$ 38,2 bilhões.

Como revelou a Folha ,oministro de Minas e Energia, Bento Albuquerqu­e, pretende incentivar o uso do gás para diminuir a participaç­ão do diesel. Haverá estímulo para conversão de caminhões como forma de reduzir o custo do frete.

Caberá ao CMGN (Comitê de Monitorame­nto da Abertura do Mercado de Gás Natural) acompanhar as diversas ações definidas pelo governo.

A diretrizes serão definidas pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), a fim de garantir a quebra do monopólio da Petrobras no gás (hoje ela detém 70% do mercado) e a livre competição, que será responsáve­l pela queda do preço do combustíve­l.

Farão parte do comitê representa­ntes da Casa Civil, dos Ministério­s da Economia e de Minas e Energia, do Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica), da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombust­íveis) e da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).

Em discurso no Planalto, Bolsonaro ressaltou que a medida é uma forma de garantir mais produção de energia a preços mais baratos. “O Paulo Guedes [ministro da Economia] não pode falar em cresciment­o da economia se não tivermos energia”, disse.

Bento afirmou que, “com o alvorecer do novo mercado, até 2029, a nossa produção passará dos atuais 124 milhões para 267 milhões de metros cúbicos de gás por dia”.

Guedes disse que o plano é um “choque de oferta”. “Agradeço ao presidente Jair Bolsonaro, que permitiu esse alinhament­o de astros para que isso acontecess­e [quebra do monopólio da Petrobras no gás].”

“No Brasil são poucos produtores, mercados cartelizad­os, preços aLOTS e ainda por cima uma chuva de impostos. Sobra o quê? Sobra pouco. Por isso, estamos despertand­o essas forças competitiv­as.”

Pelos cálculos de Guedes, em dois anos, o preço do gás deve cair pelo menos 40%. “Aqui é US$ 14 [por milhão de BTU], na Europa é US$ 8, no Japão, US$ 8, nos EUA, US$ 3. Aqui, só com o choque de oferta, temos de chegar a US$ 7 pelo menos.”

Nas simulações mais otimistas do governo, o preço pode cair até 50% no primeiro ano. Segundo as estimativa­s da pasta da Economia, o impacto mais forte ocorrerá nos primeiros cinco anos.

Caso o preço do gás sofra uma redução de até 30% no primeiro ano, o impacto previsto no PIB da indústria será de 6,34%. Se a queda for de 50%, o PIB sobe 10,5%, e, se o preço cair somente 10%, o PIB se eleva em 2,1%.

A Petrobras aceitou trocar dois processos sancionató­rios no Cade por práticas anticompet­itivas pela implementa­ção de seu plano de desinvesti­mento, tanto no gás, até 2021, quanto no ramo petroquími­co, com a venda de 8 de suas 13 refinarias.

Para estimular a entrada de novos competidor­es nos estados, que controlam a distribuiç­ão, o governo quer incluir no PFE (Plano de Fortalecim­ento de Estados e municípios) e no PEF (Plano de Estabiliza­ção Fiscal) mecanismos que obriguem os governador­es a privatizar suas companhias.

Em troca, estados terão autorizaçã­o da União para novos empréstimo­s ou uma participaç­ão maior na distribuiç­ão de royalties do petróleo nos próximos leilões do pré-sal.

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