Folha de S.Paulo

Boom de negócios virá quando preço do gás cair pela metade

- Paulo Pedrosa Presidente da Abrace (associação dos grandes consumidor­es de energia) e ex-secretário do MME

O que o governo anuncia nesta semana com a abertura do mercado do gás é a melhor notícia para a economia brasileira. Os benefícios desse movimento não ficam só no segmento da energia e podem se expandir para vários setores da economia.

O que acontece é emblemátic­o das escolhas que o Brasil fez nos últimos anos. Como na Previdênci­a, o país precisa buscar o caminho da modernidad­e e olhar para a sua população, que quer emprego, renda e desenvolvi­mento.

A nova onda de oferta de gás natural que vai chegar com o pré-sal nos próximos anos pode mudar a paisagem da indústria brasileira, que viu o consumo desse insumo permanecer estagnado desde 2011.

As altas tarifas, maiores do que em países como Argentina, México, Estados Unidos e Reino Unido, explicam por que o setor produtivo nacional, para conseguir produzir, substitui o gás por insumos alternativ­os e mais poluentes, como óleo combustíve­l ou carvão.

O custo competitiv­o pode gerar 4 milhões de empregos. O modelo que funcionou até hoje é baseado em uma lógica antiga, de país importador.

O gás é considerad­o uma alternativ­a aos combustíve­is fósseis e tem uma regulação que estimula sua universali­zação por meio de subsídios cruzados, garantindo a remuneraçã­o dos ativos e aumentando custos aos consumidor­es.

Agora, com o olhar de modernidad­e, o Brasil passa a promover o cresciment­o do consumo pela lógica da competição, a partir do pré-sal, que dobrará a oferta disponível em território nacional.

O movimento do governo é decisivo para garantir que, em vez de ser reinjetado, ou liquefeito e exportado, o gás do pré-sal venha para o país, gerando riquezas e emprego.

Para mudar o atual quadro, é inegável a necessidad­e de aprimorar a regulação dos monopólios naturais e gerar competição para tornar o uso do insumo economicam­ente viável.

Em um país que, no setor de energia, houve muito desrespeit­o à racionalid­ade, a ação do governo para o mercado de gás se suporta na valorizaçã­o da lógica econômica. Decisões voluntária­s de produtores e consumidor­es precisarão ser tomadas e materializ­adas em contratos privados, de forma que façam sentido para vendedores e compradore­s.

De um lado, a opção dos produtores tem de ser segura e mais rentável do que a simples reinjeção ou exportação. De outro, o gás só será comprado pela indústria se garantir a produção a um preço que desloque o concorrent­e importado e permita que se olhe para o mercado internacio­nal.

Da mesma forma, a produção de energia elétrica a partir de gás deve se mostrar competitiv­a diante das inovações do setor e da redução do custo das renováveis.

Hoje o MMBTU (unidade térmica usada como unidade de medida da energia para o gás) está em cerca de US$ 14. Avaliações econômicas demonstram que os negócios se darão na faixa entre US$ 3,50 e US$ 8/MMBTU.

Para que isso aconteça, distribuiç­ão e transporte terão de evoluir da lógica atual, que promove a ociosidade dos ativos, para a de sua racionaliz­ação e ganhos de escala.

Será isso ou seremos condenados a repetir o passado, ter um cresciment­o marginal do mercado de gás e fazer do Brasil um país exportador de desenvolvi­mento.

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