Folha de S.Paulo

Vamos esquecer nome CPMF e fazer o E-tax, marca mais simpática

Empresário diz que IVA é proposta dos anos 1980 de acadêmico que nunca encostou a barriga no balcão

- Joana Cunha

O empresário Flávio Rocha, da Riachuelo, defende uma proposta de reforma tributária com um imposto único sobre movimentaç­ão financeira, que vem sendo atrelado à ideia da CPMF.

O antigo “imposto do cheque”, como era conhecida a CPMF, ficou estigmatiz­ado e precisará mudar de nome, para E-tax, segundo Rocha. Mas é um modelo que elimina distorções e combate a informalid­ade porque atinge todas as transações, mesmo as irregulare­s, avalia o empresário. É o “imposto do futuro”, segundo ele.

Como o sr. vê esse surgimento de tantas propostas de reforma tributária?

Há dois caminhos. Um é o imposto da economia uberizada, da economia não linear. O outro é o IVA, que é um imposto dos anos 1980, quando a economia era linear.

O IVA pressupõe um imposto declaratór­io de alta complexida­de em que o governo precisa rastrear milhares de deslocamen­tos físicos da mercadoria, entre a confecção e a loja. O caminhão de algodão vai para a fiação e depois vem a tecelagem, depois o caminhão de tecido vai para a confecção e sai um outro que vai para a loja. Mas hoje a economia é uberizada. Há uma demanda estratific­ada e uma oferta estratific­ada, com a tecnologia fazendo milhões de conexões.

Por exemplo?

Você vai ao Mercado Livre. Entrei aqui, tinha Rolex de R$ 150. Está crescendo violentame­nte o roubo de carga, porque hoje você tem escoamento fácil para todo tipo de mercadoria. Essa operação é imune a IVA porque não identifica o fluxo de mercadoria. Mas poderia ser tributado na transação porque tudo acontece no sistema bancário.

O modelo de vocês vai atingir as transações feitas entre familiares? O filho que pede R$ 500 para o pai?

Sim. O que estamos propondo funcionou magistralm­ente, apesar do estigma que se criou. E durante 12 anos foi o imposto com o menor impacto e menor distorção na economia.

Vamos deixar de lado esse nome que está estigmatiz­ado, que é CPMF. Seria o E-tax, que é uma marca mais moderninha, mais simpática. Em 12 anos, é o único imposto que não tem contencios­o.

É a adoção da base mais universal que existe, que é a soma de todos os débitos e créditos eletrônico­s. Você deixa de falar de base de R$ 10 bilhões a R$ 30 bilhões e passa a falar de base de trilhões. Por isso você deixa de falar de alíquotas de 17%, 18%, horripilan­tes 25%, como Bernard Appy está falando, e dizem que vai ser até mais. É uma coisa devastador­a. Isso vai ser um desastre. Isso vai ter um efeito na volta da informalid­ade.

Mas também falam isso do modelo de vocês. Mas eu estou falando de um imposto de zero vírgula alguma coisa. Ele [Appy] está falando de imposto de 25%. É uma proposta de um acadêmico que nunca encostou a barriga no balcão e está a anos-luz da realidade de mercado. Fiquei assustado com a ingenuidad­e da proposta. Não tem a menor possibilid­ade de ser colocada em prática.

O de vocês também seria pesado por ter o 2,8% em cada ponta?

Não é isso. Eu fui o autor da emenda do imposto único em 1993, quando o Marcos Cintra [hoje secretário da Receita Federal] era professor na FGV. Eu era um jovem deputado e transforme­i em uma emenda constituci­onal. Lá nasceu o nome de imposto único. E era 1%. Ele já foi testado a 0,38%, com uma performanc­e fantástica e sem nenhuma distorção. É o imposto do futuro. O governo gasta para cobrar os coitados dos contribuin­tes. Gasta para arrecadar. É uma loucura. A ideia é começar gradualmen­te. O Paulo Guedes falou em 0,6%.

Vocês dizem que seu modelo inibe a sonegação, mas ele também não pode levar para informaliz­ação das transações?

Um imposto de 17%, como o ICMS, tem um senhor estímulo para migrar para informalid­ade. Mas esse imposto aqui é insonegáve­l. Eu não sei até qual alíquota. Vamos ter que testar. Mas garanto que em até 1%, com certeza, ele é insonegáve­l porque qualquer alternativ­a para se evadir do pagamento custa mais de 1%.

Se você hoje paga 3% ou 4% pela conveniênc­ia de usar o cartão de crédito no sistema bancário moderno, sem ter que andar com malas de dinheiro, porque é que você vai passar a andar com malas de dinheiro para economizar o 1% do imposto?

O grupo Brasil 200 quer fazer manifestaç­ão em defesa da reforma tributária, como foi com a Previdênci­a. Já foi um fenômeno ver as pessoas na rua pedindo a reforma da Previdênci­a. Vamos ver pessoas na rua pedindo CPMF?

E-tax. CPMF eu não acredito não. Mas pelo E-tax eu acho que vai.

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