Folha de S.Paulo

Cavalgadur­as keynesiana­s

Um aumento da oferta de papel pintado é incapaz de tornar a sociedade mais próspera

- Helio Beltrão Engenheiro com especializ­ação em finanças e MBA na Universida­de Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil | dom. Samuel Pessôa | seg. Marcia Dessen | ter. Nizan Guanaes, Cecilia Machado | qua. Helio Beltrão | qui. Laura Carvalho | se

A devastação econômica produzida pelos gestores keynesiano­s da Nova Matriz Econômica do governo Dilma perdurará por um longo tempo. Em termos reais, a renda per capita em 2019 permanece 8% abaixo do nível de 2013.

É uma década perdida: serão necessário­s três anos de cresciment­o do PIB de 3% anuais tão somente para o brasileiro retomar a renda de 2013! Como de costume, o mais prejudicad­o é o pequeno que não encontra emprego, não consegue pagar suas contas e segue endividado.

A política econômica adotada por Guido Mantega e companhia desde 2009 assentouse no drástico “estímulo da demanda agregada” por meio das políticas fiscal e monetária. Os gastos do governo cresceram bem acima da inflação e do PIB, e os bancos estatais e o BNDES lideraram uma expansão de crédito irresponsá­vel com ajuda do BC. Em suma, a fórmula do governo foi imprimir e gastar, endividar-se e gastar ainda mais.

A inconseque­nte equipe econômica descumpriu até mesmo seus manuais keynesiano­s que recomendam tal receita apenas quando há substancia­l ociosidade produtiva. Longe disso, o PIB havia crescido 4% em média no triênio 2008-2010, indicando baixa ociosidade a despeito da “marolinha” herdada pela crise internacio­nal de 2008.

Em razão do legado maldito das contas públicas, o Congresso responsave­lmente instituiu o teto de gastos a partir de 2017 e agora deve aprovar a reforma da Previdênci­a.

No entanto, os viúvos da Nova Matriz desejam ressuscitá-la. Mantega recomendou no fim do ano passado crédito abundante criado a partir do nada por bancos públicos. E seu ex-secretário-executivo Nelson Barbosa, em coluna da semana passada, nesta Folha, propôs alterar a Constituiç­ão e revogar o teto de gastos.

Deixo aqui duas lições de ciência econômica para gestores públicos.

Sobre política monetária, a lição 1: um aumento da oferta de papel pintado, ou seja, de moeda fiduciária tais como papel-moeda ou crédito, é incapaz de tornar a sociedade mais próspera.

Não é sabido que todo e qualquer banco central pode criar a quantidade de dinheiro e de crédito que desejar? Por que então ainda persiste pobreza no mundo? Devemos tentar a política hiperinfla­cionária de Maduro? Não, o Brasil aprendeu a lição 1 a duras penas. A impressão de papel pintado sem contrapart­ida em aumento de produção gera inflação de preços, lucros para os bancos e distribuiç­ão de renda de pobres para ricos.

Sobre política fiscal, a lição 2: cada tostão gasto pelo Tesouro saiu primeiro do bolso do povo.

O Tesouro não cria dinheiro. Se o governo consegue gastar R$ 1, é porque o tomou antes de um brasileiro, por meio de impostos ou voluntaria­mente por empréstimo, como no caso do Tesouro Direto. Ademais, tudo que houver contraído por empréstimo­s eventualme­nte repagará empregando impostos futuros, que sairão uma vez mais do bolso do brasileiro.

Portanto, se o governo consumar um gasto, terá necessaria­mente frustrado gasto do brasileiro em igual montante. Se o governo gasta, eu, você, nós deixamos de gastar. Os efeitos se cancelam, e não há estímulo agregado para a economia.

O gasto politicame­nte decidido beneficia quem o embolsar, mas você deixa de ter o dinheiro que atenderia sua necessidad­e mais urgente. Essa não parece ser uma boa fórmula para a prosperida­de do brasileiro, embora até o seja para o governante.

Sob essa ótica, a liberação do FGTS em análise é positiva. O FGTS, poupança forçada, é direcionad­a por critérios políticos para o setor de construção. O cotista do fundo, o trabalhado­r, faria melhor uso do recurso. Há dúvida? Convém ouvir o cotista.

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