Folha de S.Paulo

Mãe perde guarda de filho por ‘risco diuturno de morrer’ no Rio

- Ana Luiza Albuquerqu­e

A Justiça do Rio decidiu retirar dos cuidados da mãe um menino de oito anos sob o argumento de que será melhor para a criança morar longe da violência da cidade. O garoto vive com a mãe, Rosilaine Santiago, e um irmão mais velho na favela de Manguinhos, na zona norte do Rio.

Na decisão, o juiz determinou que a guarda do menino deve ser entregue ao pai, morador de Joinville (SC) e aposentado da Marinha. O caso foi revelado pelo jornal O Globo.

“A cidade do Rio tornou-se uma sementeira de crimes, havendo para todos o risco diuturno de morrer. Em Joinville, este risco estará sensivelme­nte reduzido para a criança”, escreveu o juiz.

Diante da situação, Rosilaine procurou a comissão de Direitos Humanos da OAB, que manifestar­á no processo sua preocupaçã­o com a decisão.

Aline Caldeira, membro da comissão, disse à Folha que a criminalid­ade no Rio, sozinha, não é um argumento válido. “Se for pensar sob esse aspecto, qualquer criança [no Rio] estaria com sua convivênci­a familiar ameaçada”, afirma.

Segundo ela, não há outros elementos que justifique­m a perda da guarda. Rosilaine contou à comissão que entrou com o pedido de regulariza­ção da guarda da criança depois que o ex-marido tentou matá-la.

Em nota, o Ministério Público do Rio de Janeiro informou que vai recorrer “diante da absurda e preconceit­uosa” decisão. “A pobreza não pode ser fator prepondera­nte para definir quem melhor exercerá a guarda de um filho”, escreveu.

O caso ainda será julgado na segunda instância. A reportagem não conseguiu contato com o advogado de Rosilaine.

O advogado do pai, Carlos Frederico Baptista, afirma que o argumento central do juiz não é a violência na comunidade, mas a alienação parental que teria sido provocada pela mãe.

Sobre as acusações de que o seu cliente teria tentado matar Rosilaine, o advogado responde: “Tudo balela”.

A defesa do pai garante que irá buscar apoio do Tribunal de Justiça para realizar uma transição adequada, com assistênci­a psicológic­a para a criança.

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