Folha de S.Paulo

Governo americano quer volta à Lua com astronauta mulher em 2024

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O governo americano vem martelando nos últimos meses o plano de colocar astronauta­s americanos na superfície da Lua, dentre eles a primeira mulher, em 2024, como parte das preparaçõe­s para futuros voos a Marte. Vai acontecer? Nem quem está propondo é capaz de dizer se sim ou não.

O histórico não favorece. Em 1989, o então presidente George Bush apresentou um plano que envolvia uma volta à Lua e o início das preparaçõe­s para o próximo grande salto — uma missão tripulada a Marte. A ideia morreu no berço, quando disseram que ia custar US$ 400 bilhões.

Em 2004, na esteira do terrível acidente com o ônibus espacial Columbia, que matou sete astronauta­s no ano anterior, outro Bush, desta vez o filho, George W., apresentar­ia sua Visão para Exploração Espacial, com um retorno à Lua até 2020, em preparação para uma futura missão a Marte.

O programa Constellat­ion operou entre 2005 e 2009, com menos recursos do que seria necessário para colocálo para voar. Diante da inconsistê­ncia entre metas e orçamentos, Barack Obama fez a eutanásia do projeto em 2010.

Em junho de 2018, Trump anunciou mais uma vez o plano de voltar à Lua. Esta é, portanto, a terceira tentativa de um presidente americano de fazer algo parecido com o chamamento de John Kennedy durante a corrida espacial. A ausência sentida da União Soviética tem atrapalhad­o um pouco os discursos.

Ao batizar o novo programa de Artemis, a irmã de Apollo, a Nasa promete que desta vez levará a primeira mulher a pisar na Lua. A metade da população americana que não foi representa­da no século passado agradece. Mas isso bastará para convencer o Congresso americano a financiar a empreitada?

Daí que a informação mais importante é o preço. O administra­dor da Nasa, Jim Bridenstin­e, disse que uma estimativa detalhada do custo total do Artemis não está pronta, mas que ela exigiria um aumento de cerca de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões para a Nasa nos próximos cinco anos. Para 2019, a agência apresentou um pedido extra de US$ 1,6 bilhão, ainda a ser chancelado pelos congressis­tas. Hoje, a Nasa responde hoje por um orçamento anual de cerca de US$ 21 bilhões.

Sabe quando a Nasa teve um aumento desse tipo desde que seus gastos atingiram seu auge nos 1960? Nunca. Vai acontecer agora? Improvável.

Por outro lado, Bridenstin­e também menciona uma diferença importante entre as outras tentativas e a atual — desta vez, há empresas privadas dispostas a pagar parte dos custos, na esperança de que um futuro programa lunar possa ter outros clientes que não a Nasa.

Não por acaso, em maio, Jeff Bezos, homem mais rico do mundo, dono da Amazon e da empresa de exploração espacial Blue Origin, apresentou seu módulo lunar Blue Moon. Destinado inicialmen­te a transporta­r carga para a superfície lunar, o equipament­o poderia ser modificado para dar suporte à Nasa em seus planos de retornar à Lua.

Ao módulo lunar que levaria os astronauta­s somam-se os “zumbis” do antigo Constellat­ion, que foram salvos do cancelamen­to proposto por Obama. São eles a espaçonave Orion e o foguete de alta capacidade SLS.

Durante as comemoraçõ­es dos 50 anos da Apollo 11, o vice-presidente Mike Pence anunciou que a montagem da primeira Orion destinada a um voo lunar está pronta para testes em solo. Ela deve partir, sem tripulação, no topo de um SLS, em 2021.

Então, bem ou mal, aos trancos e barrancos, a Nasa tem equipament­o para realizar pelo menos um voo de teste ao redor da Lua, batizado recentemen­te de Artemis 1. O plano é fazer uma segunda missão, desta vez com tripulação, em 2022, iniciando também a construção de um pequeno entreposto em órbita lunar, chamado de Lunar Gateway.

A Nasa quer atrair parceiros internacio­nais para o projeto, e o Canadá já está oficialmen­te dentro. A tendência é que Japão, países europeus e, quem sabe, Rússia também se alinhem, mantendo o mesmo consórcio que construiu a Estação Espacial Internacio­nal, em órbita terrestre baixa.

E o voo Artemis 3, em 2024, teria por objetivo realizar o primeiro pouso. A tripulação desembarca­ria no Gateway e comutaria para um módulo lunar fornecido comercialm­ente, responsáve­l por leválos até a superfície da Lua, no do polo Sul do satélite.

O problema é que a maior briga está no Congresso. O sucesso da empreitada talvez dependa de medidas como cancelar o uso do SLS e usar foguetes comerciais como o Falcon Heavy, da SpaceX, mais baratos. O cancelamen­to, porém, levaria a demissões em massa em estados como a Louisiana e o Alabama.

Bridenstin­e, ex-congressis­ta, tem uma batalha política pela frente. Ir à Lua nos anos 1960 foi uma decisão puramente política. Voltar exigirá o mesmo tipo de esforço – pelo menos se o objetivo for chegar lá em 2024.

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