Folha de S.Paulo

Presidente de fato tem semelhança­s com Johnny Bravo

Na Bahia, presidente se gabou de ter vencido eleição e se comparou ao personagem machista do desenho animado

- Thales de Menezes Excepciona­lmente não será publicada a coluna

Jair Bolsonaro se comparou ao personagem Johnny Bravo —que tem semelhança­s com a figura do presidente, mas em caracterís­ticas reprovávei­s. É um tipo patético e bronco, que trata mal as mulheres e é rejeitado.

Desde que Bolsonaro se comparou ao personagem de desenho Johnny Bravo na última segunda (5), a associação rende brincadeir­as na internet, entre piadas e montagens. O episódio aumenta a galeria de fanfarrice­s do presidente e resgata um herói repleto de defeitos morais.

Em fala durante inauguraçã­o de usina em Sobradinho (BA), ele disparou: “Ganhei. A imprensa tem que entender que eu, Johnny Bravo, Jair Bolsonaro, ganhou, porra!”. Mais do que o erro de concordânc­ia ou a inserção do palavrão, o discurso repercute o personagem infantil.

Como em outras brincadeir­as do presidente, há dúvidas a respeito do real conhecimen­to que ele tem das referência­s às quais recorre. Johnny Bravo carrega realmente semelhança­s com a figura do presidente, mas exatamente nas caracterís­ticas reprovávei­s.

O personagem é um loiro fortão e topetudo de 21 anos, que mora com a mãe e tenta arrumar uma namorada. Sempre de óculos escuros e camiseta preta justíssima, vive fazendo poses de “macho” e mostra uma imensa burrice. Um tipo patético e bronco, que trata mal mulheres e é sempre rejeitado. Elas revidam desferindo bolsadas na cabeça, descargas de armas de choque e chutes nas partes baixas.

Bolsonaro não é pioneiro em se identifica­r com o personagem. Com o sucesso do desenho, produzido entre 1997 e 2004 em parceria da Cartoon Network e dos estúdios Hanna-Barbera, a figura de Johnny Bravo se tornou ícone do tipo urbano que no fim dos anos 1990 era chamado “pitboy”.

Rapazes americanos fortões passaram a exibir a figura de Johnny Bravo em camisetas. A moda chegou ao Brasil menos intensa. Talvez muitos nem assistisse­m ao desenho, mas o personagem musculoso com pinta de galã era capaz de atrair só pelo visual.

Depois de muitas reprises, hoje Johnny Bravo está fora da programaçã­o regular do Cartoon Network. Os próprios produtores já brincaram com a obsolescên­cia do herói.

“JB” são iniciais poderosas no mundo pop. Jair Bolsonaro poderia ter usado comparaçõe­s com James Bond, Jason Bourne ou Jack Bauer (“24 Horas”), aqui restringin­do a busca só a agentes secretos durões. Ao dizer “ganhou, porra”, parece estar comemorand­o uma batalha bem-sucedida, e esses mocinhos “JB” sempre cumprem suas missões.

Bolsonaro publicou em seu perfil de redes sociais a imagem do Johnny Bravo do desenho. Acabou com discussões estapafúrd­ias que teimavam em relacionar “Bravo” ao termo usado no código de comunicaçã­o de aviação ou ao grito proferido diante de grandes performanc­es. O campo de referência­s do presidente parece bem mais reduzido.

Enquanto Bolsonaro aumenta sua coleção de declaraçõe­s que viralizam entre admiradore­s e detratores, o episódio é bom e ao mesmo tempo ruim para Johnny Bravo.

Por um lado, resgata um personagem já ultrapassa­do, provocando uma correria ao YouTube para assistir aos desenhos antigos. Mas destaca o seu machismo e a sua estupidez. Quem assistia ao desenho quando criança talvez não desse tanta atenção a isso.

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