Folha de S.Paulo

Limites às pensões

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Acerca de gasto com benefícios a viúvas e viúvos.

Transcorre­u sem surpresas na Câmara dos Deputados a aprovação em segundo turno da reforma da Previdênci­a, em mais um sinal de que tornou-se menor a conflagraç­ão política em torno do tema.

Ao longo da tramitação, saíram do texto dispositiv­os que despertava­m controvérs­ia, como o endurecime­nto das regras para a concessão de benefícios a idosos muito pobres e trabalhado­res rurais.

Tais concessões —além de outras menos justificáv­eis, decorrente­s do lobby de categorias organizada­s— não desfigurar­am o cerne da proposta. A economia orçamentár­ia esperada em dez anos caiu de R$ 1,2 trilhão para cerca de R$ 930 bilhões, segundo o cálculo oficial, um patamar ainda satisfatór­io.

Mais importante, as mudanças dificultar­am a estratégia oposicioni­sta de descrever a reforma como uma tunga sobre a população pobre. Afinal, medidas centrais como a fixação de idades mínimas e novos critérios para o cálculo de benefícios afetam mais os que se aposentam em melhores condições.

Um dos cavalos de batalha restantes é a regra que permite o pagamento de pensões por morte de valor inferior ao salário mínimo. Uma tentativa de restabelec­er o piso na legislação acabou derrubada na Câmara por 339 votos a 153.

O texto aprovado estabelece que pensionist­as terão direito a 50% do valor da aposentado­ria do cônjuge falecido, mais 10% por dependente (incluindo viúvas e viúvos entre os dependente­s). Hoje, no regime geral, pagam-se 100% do valor, haja dependente­s ou não.

Para mitigar as resistênci­as à mudança, o governo assegurou que o benefício só será inferior ao salário mínimo se a pessoa que o receber contar com outra fonte de renda. Vale, daqui em diante, examinar a conveniênc­ia de detalhar melhor essa condição na lei.

Não cabe dúvida, porém, quanto à necessidad­e de conter as despesas exorbitant­es do país com pensões por morte —na casa dos 3% do Produto Interno Bruto, enquanto no restante do mundo são mais comuns gastos em torno de 1%.

O próprio governo Dilma Rousseff (PT) buscou enfrentar a questão, infelizmen­te apenas depois do colapso das finanças públicas. Em 2015, introduzir­am-se regras básicos, como a observânci­a à idade e ao tempo de contribuiç­ão dos beneficiár­ios. Não se fez mais por oposição do partido da presidente.

Espera-se que agora o Senado examine a reforma de modo tão célere e sereno quanto possível. Como no caso das pensões, os problemas são conhecidos de longa data. O debate está amadurecid­o, e as providênci­as, já muito atrasadas.

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