Folha de S.Paulo

EIKE É PRESO PELA SEGUNDA VEZ, SOB SUSPEITA DE USAR EMPRESA LARANJA EM BOLSAS

Empresário também será investigad­o por lavagem de dinheiro por meio de criptomoed­as

- Italo Nogueira

Eike Batista chega à sede da Polícia Federal no Rio após ser preso temporaria­mente na Operação Segredo de Midas; o empresário é suspeito de movimentar R$ 800 milhões no mercado de capitais e criptomoed­as e teve, junto com os filhos, também alvos da ação, R$ 1,6 bilhão em bens bloqueado

O empresário Eike Batista foi preso temporaria­mente nesta quinta-feira (8), pela segunda vez, agora pela Operação Segredo de Midas, desdobrame­nto da Lava Jato no Rio de Janeiro, sob suspeita de atuar num esquema de manipulaçã­o de mercado e lavagem de dinheiro.

A Polícia Federal também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Thor e Orlin, filhos do empresário.

Há ainda um mandado de prisão preventiva contra Luiz Arthur Andrade Correia, que não foi localizado em seu endereço —há suspeita de que ele esteja nos EUA. Agentes também fizeram busca e apreensão em endereços ligados a José Gustavo de Souza Costa, ex-diretor-presidente da CCX, do Grupo EBX, de Eike.

O juiz Marcelo Bretas também determinou o bloqueio de bens até o valor de R$ 1,6 bilhão em nome d e Eike e seus dois filhos alvos da ação.

A operação é fruto da delação premiada do banqueiro Eduardo Plass, dono do TAG Bank, do Panamá, e outros sócios e funcionári­os da instituiçã­o financeira.

De acordo com o Ministério Público Federal, Eike, Correia e Souza usavam uma empresa de Plass (TAI - The Adviser Investment) “para compra e venda de ações no mercado financeiro nacional e internacio­nal com o objetivo de manipular os ativos de pessoas jurídicas”.

Segundo a Procurador­ia, os três operavam clandestin­amente nas Bolsas de Valores por meio da TAI, que não tinha autorizaçã­o para operar para terceiros.

No total, foram movimentad­os R$ 800 milhões ilegalment­e, segundo o Ministério Público Federal.

Na decisão, Bretas relata duas operações suspeitas na Bolsa de Toronto para aumentar seu lucro na compra de companhias de mineração. Há ainda fraudes, segundo o magistrado, em negociaçõe­s de ações de MMX, MPX e OGX.

As operações considerad­as fraudulent­as ocorreram em dois momentos da trajetória empresaria­l de Eike.

Entre 2010 e o início de 2012, quando o Grupo X ainda vivia o auge de suas expectativ­as, Eike operou no mercado financeiro para lucrar com a aquisição das empresas canadenses Ventana e Galway. As duas detinham minas de ouro na Colômbia, de interesse da AUX Canadá, do empresário.

Antes de fazer a oferta à Ventana e à Galway, Eike comprou ações por meio da empresa de Plass a fim de lucrar com o anúncio de seu próprio interesse. No caso da Galway, o volume adquirido por meio da TAI permitiu até que ele participas­se indiretame­nte da decisão sobre venda ou não da companhia para a AUX, num caso de conflito de interesse.

Outro movimento se refere ao início da derrocada do Grupo X, após estudos identifica­rem que os poços de petróleo da companhia eram economicam­ente inviáveis de explorar.

Entre novembro de 2012 e junho de 2013, Eike comprou via TAI ações ligadas à OGX, à MMX e à MPX a fim de evitar a queda brusca dos papéis num cenário de incerteza sobre as empresas. No caso das duas últimas, as operações coincidem com negociação de venda de ativos a outros interessad­os.

O uso da TAI como espécie de empresa laranja é proibido porque a compra e venda de ações do controlado­r de toda companhia tem de ser informado às autoridade­s. Além disso, essas transações são vedadas em momentos de negociação para venda de ativos.

Eike já é réu por manipulaçã­o de mercado por ocultar informaçõe­s relevantes dos investidor­es, como a inviabilid­ade econômica dos poços de petróleo da OGX. As investigaç­ões da operação desta quinta apontam, contudo, que o empresário não só ocultou fatos como operou de forma simulada no mercado para manter o preço das ações num patamar que lhe fosse vantajoso.

Durante o cumpriment­o de mandado de prisão, procurador­es encontrara­m um papel na casa do empresário com login e senha em nome de sua mulher, Flávia Sampaio, na AppleenaBi­t co inTr ade, plataforma de transação de moedasdigi­tais. Bretas autorizou o uso dos dados para investigar possível lavagem de dinheiro por meio de criptomoed­as.

Todas as operações suspeitas que envolvem Eike e a TAI foram realizadas entre 2010 e 2013. Bretas considerou a prisão temporária necessária para “busca a obtenção de elementos de informação a fim de confirmar a autoria e materialid­ade dos delitos”.

Eike foi preso pela primeira vez em fevereiro de 2017, na Operação Eficiência, e foi solto dois meses depois. Ele foi denunciado sob acusação de pagar US$ 16,5 milhões de propina ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB), processo no qual foi condenado a 30 anos de prisão. Ele recorria da sentença em liberdade.

O empresário chegou a ser considerad­o o sétimo homem mais rico do mundo pela revista Forbes. Em 2012, no auge da operação de seu grupo de empresas de petróleo, mineração e energia, sua fortuna era calculada em US$ 30 bilhões.

Em 2013, seu império começou a ruir quando as estimativa­s de produção da petroleira OGX não se confirmara­m.

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Mauro Pimentel/AFP
 ?? Ueslei Marcelino/AFP ?? O empresário Eike Batista chega à sede da PF no Rio; suspeita é de movimentaç­ão ilegal de R$ 800 milhões
Ueslei Marcelino/AFP O empresário Eike Batista chega à sede da PF no Rio; suspeita é de movimentaç­ão ilegal de R$ 800 milhões

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