Folha de S.Paulo

Planalto deve retomar diálogo, diz Doria na China

- Igor Gielow O jornalista viaja a convite da InvestSP

Mesmo com a radicaliza­ção recente de Jair Bolsonaro (PSL), o PSDB não deve ser oposição ao Planalto. O presidente, contudo, precisa entender que é preciso retomar o diálogo.

Essa é a opinião do governador João Doria (PSDB-SP), principal nome a emergir como adversário de Bolsonaro em 2022. Ele recebeu a Folha em um hotel de Xangai, onde nesta sexta-feira (9) abrirá o primeiro escritório comercial paulista no exterior.

“Melhor opção para o Brasil não é a dos extremos. Exercer o Poder Executivo, mas retomando o diálogo. Espero que isso possa ser retomado pelo presidente, compreende­ndo que ainda tem três anos e meio de governo”, disse.

Doria mediu muito as palavras. Preferiu “não fazer essa análise” ao ser questionad­o se Bolsonaro teria esticado a corda nas últimas semanas, quando acumulou episódios de confrontaç­ão pública.

Mas não fez reparos à lista apresentad­a pela reportagem, que incluía o embate que derrubou o diretor do Inpe, a escolha do filho Eduardo para ser embaixador em Washington, a falsa acusação de que o pai do presidente da OAB foi morto por companheir­os de luta armada na ditadura e críticas aos governador­es do Nordeste.

O tucano crê que a aprovação da reforma da Previdênci­a abre um novo capítulo na narrativa política do país. “O Brasil precisa de união porque é preciso finalizar a reforma. Ela precisa ir ao Senado, reincluir estados e municípios e voltar para a Câmara.”

Ele também acha que é possível, embora difícil, aprovar a reforma tributária neste semestre. “Seria uma grande conquista para o país ter duas reformas tão importante­s votadas no primeiro ano do governo Bolsonaro”, disse.

O cronograma embute um cálculo político não dito, afinal é pior para quem for enfrentar o presidente em 2022 que o país eventualme­nte só venha a reagir na economia mais para perto do pleito.

O tucano tem feito um jogo de diferencia­ção de Bolsonaro que é complexo, dado que se elegeu em segundo turno no ano passado numa onda que tinha até nome: BolsoDoria.

Questionad­o sobre a similarida­de dos eleitorado­s, buscou estabelece­r uma linha quase comportame­ntal. “Bom diálogo é melhor que ataques, distanciam­entos e medidas mais radicais. O PSDB não vai se afastar do país, nem se alinhar. Mas não fará oposição.”

O movimento é contrário ao que desejam setores do partido na Câmara, que creem ser necessário estabelece­r já uma oposição aberta com vistas à eleição municipal de 2020.

Um bom exemplo da dificuldad­e do tucano em termos de imagem foi sua reação à provocação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que sugeriu que o ex-presidente Lula correria riscos se transferid­o para o sistema prisional paulista.

No Twitter, Doria ironizou que, na cadeia, Lula poderia trabalhar, algo que nunca teria feito. A transferên­cia do petista, preso por corrupção e lavagem de dinheiro em Curitiba, acabou sustada pelo STF.

“Se houver nova decisão para transferir o presidiári­o Luiz Inácio Lula da Silva para São Paulo, ele terá o tratamento correto e humanitári­o que todo presidiári­o tem.”

Na viagem, Doria mostrou que seu antiesquer­dismo tem limites. Na quarta (7), assinou acordo com a estatal chinesa ferroviári­a CR20 em uma sala na qual figurava a foice e o martelo do Partido Comunista que rege a ditadura local.

Não seria contraditó­rio? “Não, porque não estamos aqui para fazer uma avaliação política, mas sim para fazer negócios que geram oportunida­des e empregos para brasileiro­s em São Paulo. Dinheiro não tem cor política, desde que esteja tudo dentro da lei”, afirmou.

 ?? Reprodução Twitter João Doria ?? Doria tira selfie com executivo de empresa de energia State Grid, em Xangai
Reprodução Twitter João Doria Doria tira selfie com executivo de empresa de energia State Grid, em Xangai

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil