Folha de S.Paulo

Fratus vê medalha como obrigação para a natação brasileira

Nadador brasileiro disputa os 50 m livre no Pan e terá americano Nathan Adrian como seu principal adversário

- Daniel E. de Castro

Antes de acabar a prova do revezament­o 4 x 100 m livre da natação, na última terça-feira (6), Bruno Fratus já estava fora da piscina e correu até a arquibanca­da do centro aquático de Lima para pegar uma bandeira do Brasil.

Foi enrolado nela que comemorou, pouco depois, o ouro do Brasil nos Jogos Pan-Americanos ao lado de Breno Correia, 20, Pedro Spajari, 22, e Marcelo Chierighin­i, 28.

Aos 30 anos, Fratus é o mais velho desse time e também o mais vitorioso, com três medalhas em campeonato­s mundiais de piscina longa na prova de 50 m. A última delas foi conquistad­a há duas semanas, na Coreia do Sul.

Para o atleta, currículo e experiênci­a não o colocam automatica­mente em posição de liderança na natação brasileira, mas ele tampouco a rejeita.

“Não gosto muito de me autointitu­lar líder, chamar a coisa para mim. É muito raro eu chegar e puxar alguém para conversar, mas quem quiser seguir o exemplo e aprender, porque eu estou fazendo isso já faz um tempo, que venha junto que eu ensino com o maior prazer”, diz.

Ele será o favorito na prova dos 50 m livre, a mais rápida da natação, que tem sua final no Pan de Lima marcada para a noite desta sexta-feira (9). Pela régua que coloca para si mesmo e para os colegas de equipe, Fratus só sairá satisfeito se sair da piscina para o lugar mais alto do pódio.

“Eu gosto de pensar que a gente está sempre abaixo da expectativ­a. Quando a natação brasileira vem para o PanAmerica­no, a obrigação é ganhar todas as provas. E algumas com dobradinha. Natação tem que ser o carro-chefe [do Brasil] mesmo. Tem que chegar aqui, comparecer e varrer o máximo de medalhas de ouro”, afirmou após a vitória no revezament­o.

Fratus já havia nadado essa prova no Mundial, quando o time ficou em sexto lugar. Gabriel Santos, então titular do revezament­o, foi suspenso em julho por doping.

Devido à lesão no ombro que o obrigou a passar por uma cirurgia em 2018, o veterano não vinha se dedicando com a mesma intensidad­e a provas de 100 m. Ele mora na Flórida e tem como técnicos a esposa, Michele Lenhardt, e o australian­o Brett Hawke.

Depois de ganhar seu primeiro ouro no Pan, o brasileiro contou que gostou da vila dos atletas por ela ser compacta. “Nadador odeia andar, e entre os nadadores eu sou o que mais detesta”, brincou.

Dentro da água, porém, a preguiça passa longe. Fratus se considera obstinado por melhorar seus resultados e mostrou esse comportame­nto após ter ficado com a prata nos 50 m livre no último Mundial, atrás de Caeleb Dressel.

O americano de 22 anos foi o grande destaque da competição ao ganhar oito medalhas e quebrar o recorde de Michael Phelps nos 100 m borboleta. Agora o brasileiro terá um ano para tentar alcançá-lo na Olimpíada de Tóquio-2020.

“Chego ao Pan com vontade de trabalhar, porque no ano que vem com certeza vai ter ele e mais gente num momento mais foda ainda, então tenho que trabalhar e me certificar de que o meu momento vai ser o mais foda”, diz.

Para a disputa no Pan, seu concorrent­e será outro americano de currículo extenso. Nathan Adrian, 30, tem oito medalhas olímpicas e foi bronze nos 50 m livre na Rio-2016.

No fim do ano passado, Adrian descobriu ter um câncer no testículo, mas após duas cirurgias e alguns meses de recuperaçã­o conseguiu estar apto novamente para competir. Não foi ao Mundial, mas tem demonstrad­o estar feliz com sua primeira participaç­ão em Jogos Pan-Americanos.

“Eu sonho, vivo, como e durmo pensando em medalhas, mas, no fim das contas, há outras coisas que são igualmente importante­s na vida”, afirmou.

Ele recusou o rótulo de maior estrela do evento e elogiou rivais, como Fratus. Ao ser informado das palavras do americano, o brasileiro se mostrou desconfiad­o: “Dá mole para ele para ver o que acontece.”

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