Folha de S.Paulo

Assembleia de São Paulo aprova extinção da Dersa, pivô de irregulari­dades

- Carolina Linhares

SÃO PAULO A Assembleia Legislativ­a de São Paulo aprovou nesta terça (10), por 64 votos a 15, a extinção da Dersa, estatal de desenvolvi­mento rodoviário que está no centro de um escândalo de corrupção de governos tucanos.

A votação, que teve ainda duas abstenções, era uma das prioridade­s do governo João Doria (PSDB), que tentou aval para extinguir a estatal no primeiro semestre, mas postergou seu plano em meio à resistênci­a inicial dos deputados.

Agora, a base do tucano já está mais consolidad­a, sobretudo porque partidos que se dizem independen­tes, como Novo e PSL (a maior bancada com 15 deputados), costumam apoiar privatizaç­ões.

Criada em 1969 e atualmente com 307 funcionári­os, a Dersa foi responsáve­l pelos contratos do Rodoanel, dentre outras obras, mas deixou de ser encarregad­a de novas construçõe­s na gestão Doria.

Assolada por investigaç­ões que apontam suspeitas de desvios milhões de reais em obras de governos do PSDB, ela é alvo de um pedido de CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito) feito pelo PT e pelo PSL.

A pressa de Doria para a extinção da Dersa levou à inclusão da proposta para votação no plenário sem ter passado por todas as comissões que antecedem essa etapa.

O projeto foi apresentad­o em 1º de junho e aprovado na Comissão de Constituiç­ão, Justiça e Redação, a primeira a analisá-lo, em 14 de agosto —houve recesso em julho.

No último dia 20, passou a constar na pauta do plenário, sem ter sido aprovado nas comissões de Transporte­s e Comunicaçõ­es e na de Finanças, Orçamento e Planejamen­to. O regime de urgência da proposta permite o trâmite.

A extinção da Dersa esteve em discussão no plenário em cinco sessões até ser aprovada (era preciso acumular seis horas de discussão). A maior parte desse tempo, porém, não foi gasta em debates, mas contabiliz­ada a partir de acordo entre os líderes partidário­s.

“O projeto é um cheque em branco. Significa a demissão de trabalhado­res da Dersa. Amigos do governador do setor privado vão passar a vender os serviços da Dersa”, disse Teonilio Barba, líder do PT.

O líder de governo, Carlão Pignatari (PSDB), disse que a ideia é diminuir as despesas e favorecer os contribuin­tes.

Segundo ele, os empregados da Dersa poderão aderir a um plano de demissão voluntária, e as atividades da empresa serão absorvidas pela Secretaria de Logística e Transporte­s.

A oposição tenta instalar a CPI da Dersa, mas para isso precisa obter aval de 48 deputados (de um total de 94).

Segundo Barba, deputados do PSDB trabalham para que a CPI não seja votada. Pignatari, por sua vez, diz que a sigla não vê problema na comissão.

A possibilid­ade de investigar a estatal ficou mais distante após uma manobra do PSDB em março. Os tucanos requisitar­am outras CPIs à frente — foi protocolad­a uma para apurar, por exemplo, pet shops.

Em janeiro, Doria enviou à Assembleia, como primeiro projeto, a extinção ou fusão de seis estatais.

Como a proposta foi questionad­a até mesmo por partidos que defendem privatizaç­ões, Doria separou a Dersa em novo projeto, destravand­o a aprovação em relação às demais estatais, ocorrida em maio. Enquanto isso, foi esvaziando as funções da Dersa, como mostrou a Folha.

A empresa, responsáve­l também pela ampliação da marginal Tietê, virou alvo de suspeitas nos últimos anos associadas ao ex-diretor Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto e apontado como suposto operador de propina de tucanos.

Extraofici­almente, a Dersa é considerad­a sob intervençã­o da Secretaria de Logística e Transporte­s na gestão Doria. A pasta rescindiu contratos das suas duas principais obras: trecho norte do Rodoanel e contornos da rodovia dos Tamoios. A Dersa presta outros serviços, como a operação de balsas no litoral.

As travessias, no entanto, não são considerad­as sustentáve­is pelo governo, e foram incluídas na carteira de concessões e privatizaç­ões.

O secretário dos Transporte­s, João Octaviano Machado Neto, disse na justificat­iva do projeto enviado que a Dersa “está em vias de ser caracteriz­ada como empresa estatal dependente”, precisando neste ano de R$ 50 milhões do Tesouro estadual para pagar despesas de pessoal e custeio.

O passivo da estatal decorrente de ações judiciais pode chegar a R$ 1,13 bilhão. Em 2018, teve lucro de R$ 29 milhões e prejuízo acumulado de R$ 435 milhões. Os ativos somam R$ R$ 1,46 bilhão.

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Danilo Verpa - 29.mai.2019/Folhapress Trecho do Rodoanel Norte, em São Paulo

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