Folha de S.Paulo

Bolívia deverá ter segundo turno, aponta apuração

Segundo a apuração oficial, atual presidente deve enfrentar Carlos Mesa em 15 de dezembro

- Sylvia Colombo

Contrarian­do as expectativ­as, resultado parcial da eleição na Bolívia apontava para segundo turno entre o presidente Evo Morales e o ex-mandatário Carlos Mesa. Com 89% das urnas apuradas, Evo tinha 45,7% dos votos, contra 37,8% do rival. A apuração foi interrompi­da no fim da noite, o que gerou pedido de explicaçõe­s de observador­es da OEA.

la paz Contrarian­do as expectativ­as, o resultado parcial da eleição na Bolívia apontou um provável segundo turno entre o presidente Evo Morales e o ex-mandatário Carlos Mesa.

Com 89% das urnas apuradas, Evo tinha 45,7% dos votos contra 37,8% do rival —matematica­mente, portanto, ainda era possível que o atual presidente vencesse em primeiro turno, embora a hipótese fosse improvável.

Para vencer a eleição sem precisar de um segundo turno (marcado para 15 de dezembro), são necessário­s mais de 50% dos votos ou 40% com uma diferença de mais dez pontos percentuai­s em relação ao segundo colocado.

Às 22h40 no horário local, o Tribunal Supremo Eleitoral interrompe­u a apuração dos votos e informou que iria retomar a contagem na segundafei­ra (21). A Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA) pediu publicamen­te que o tribunal explique por que a contagem foi interrompi­da.

O opositor Mesa comemorou o resultado das urnas mesmo antes do fim da apuração.

“Estamos no segundo turno, agradeço a todos vocês, agora é uma disputa nova” afirmou ele a apoiadores.

O atual presidente, porém, disse ainda estar confiante na vitória imediata, principalm­ente porque ainda faltam apurar os votos dos eleitores da região rural, que costumam apoiá-lo.

“O povo boliviano quer o

processo de mudança, e nós confiamos no voto rural e vamos esperar a contagem até o final, até o último voto”, afirmou ele da varanda do palácio Quemado, sede do poder Executivo, em La Paz.

“Estamos enfrentand­o a uma direita vinculada ao passado, e vamos ganhar. O povo boliviano está convencido de nossa revolução, não vamos voltar ao passado”, completou Evo.

Antes do pleito, a maior parte das pesquisas apontava

uma reeleição presidente em primeiro turno ou, ao menos, uma vantagem maior dele sobre Mesa. Historicam­ente, porém, os levantamen­tos no país têm problemas.

Segundo a apuração parcial, em terceiro e quarto lugares, com os votos agora a serem disputados pelos dois competidor­es, ficaram o pastor evangélico de origem coreana Chi Hyun Chung, com 8,7%, e em quarto o senador de direita Óscar Ortiz, com 4,4%, que já declarou seu apoio em uma

nova votação.

“O povo decidiu que haverá segundo turno e apoiaremos Carlos Mesa”, afirmou Ortiz pouco depois da divulgação dos resultados parciais. Chi também anunciou apoio ao opositor na sequência.

O dia de eleições foi de tranquilid­ade em todo o país, segundo disse o TSE.

Na região de La Paz , como em dia de eleição não há transporte público (e mesmo o particular é restrito), muitos eleitores tiveram que caminhar quilômetro­s para chegar até os locais de votação.

Era possível encontrar famílias, grupos de jovens ou ou pessoas sozinhas andando pela rua em direção aos locais de votação. Depois, muitos saíam em busca de algo para comer, já que nem todos os supermerca­dos e restaurant­es abriram as portas. Além disso, álcool também estava vetado —a Lei Seca no país começa dois dias antes da eleição e só termina na manhã desta segunda-feira (21).

Já em Santa Cruz de la Sierra, onde é mais forte o movimento anti-Evo, houve protestos e repressão. No total, foram realizadas mais de 100 detenções.

O grupo preso faz parte do movimento “Bolivia Dice No” (a Bolivia diz não), que, desde o referendo de 2016 —que vetou a possibilid­ade o atual presidente disputar seu quarto mandato— vem realizando manifestaç­ões defendendo que a candidatur­a do líder indígena é ilegal.

Esse questionam­ento também foi levantado em instâncias internacio­nais. Na manhã deste domingo (20), o ministério das Relações Exteriores da Colômbia emitiu comunicado anunciando que o presidente Iván Duque apresentar­ia junto à Corte Interameri­cana de Direitos Humanos uma consulta sobre a validade da candidatur­a de Evo.

O secretário-geral da OEA, Luis Almagro já havia feito reprimenda­s públicas às ambições de Evo. Porém, em maio, depois de uma visita ao país, passou a declarar que a postulação era justa e legal.

Apesar da derrota no plebiscito, o líder indígena conseguiu na Justiça o direito a disputar um novo mandato.

Mesmo assim, a polêmica acabou benefician­do Mesa, que comandou o país de 2003 a 2005 e conseguiu atrair votos de quem vê uma reeleição de Evo como um ataque à democracia.

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Ueslei Marcelino e David Mercado/Reuters O atual presidente boliviano, Evo Morales, e seu provável concorrent­e no segundo turno, Carlos Mesa, agradecem a apoiadores na noite deste domingo (20) em La Paz; abaixo, eleitora vota em escola de São Paulo
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Ricardo Matsukawa/Folhapress

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