Folha de S.Paulo

Políticos do PSL quiseram devorar filhos de Bolsonaro antes

Políticos do partido acharam melhor devorar antes os filhos de Bolsonaro

- Celso Rocha de Barros

Foi uma semana difícil, em que o bolsonaris­mo não sabia se radicaliza­va ou desmoronav­a e acabou fazendo bastante dos dois.

No fim de semana passado, os bolsonaris­tas organizara­m uma conferênci­a conservado­ra em que Weintraub comparou FHC à Aids, e Damares comparou a esquerda ao demônio.

No começo da semana, blogueiros governista­s foram para as redes sociais pedir um novo AI-5, tentando capitaliza­r uma eventual onda de indignação contra o STF.

Mas lá pela sexta-feira (18), a impressão que dava era que o STF era quem, se quisesse, teria sido capaz de fechar o PSL com um estagiário e um estenógraf­o em um jipe.

Muita gente disse que essa briga fratricida entre o presidente e seu partido era inédita. Bom, se você comparar com governos democrátic­os tentando formar maiorias, é, de fato, difícil achar outro exemplo no mundo de um negócio desses.

Mas na história de golpes, revoluções e outras formas de subversão da ordem é mais regra que exceção. Danton, revolucion­ário francês guilhotina­do pela revolução que ajudou a fazer, disse que a revolução era como Saturno, comia os próprios filhos.

Se você não gosta dos comunistas de 1917, não se preocupe, Stalin matou eles todos.

E o mesmo acontece em menor escala: o golpe de 64 descartou toda aquela turma que achou que haveria eleição presidenci­al em 1965. Quando as próprias regras do jogo entram em disputa, a briga se acirra.

Nisso, como em outros casos, dependendo do que você acha que Bolsonaro quer fazer, ele pode ser aberrante ou típico.

O problema na última semana foi que os políticos do PSL perceberam que a revolução é como Saturno, que devora seus próprios filhos, e acharam melhor devorar os filhos de Bolsonaro antes.

Foi uma surra. O presidente foi gravado tentando fazer de Eduardo o líder do PSL na Câmara no lugar do deputado Delegado Waldir. Perdeu. As chances de Eduardo se tornar embaixador tornaram-se muito remotas.

O PSL vai retaliar Flávio e Eduardo em seus estados. O deputado Júnior Bozzella (PSL-SP) declarou à Folha que “nós agora temos uma missão: salvar o Brasil dos filhos do presidente”.

O problema é que os filhos de Bolsonaro não são só três fraquejada­s épicas, são a máquina política do pai. Os filhos são os aliados que são completame­nte dependente­s de Bolsonaro, os aliados com quem ele acha que pode contar.

Os esquemas atribuídos a Flávio Bolsonaro, se existirem, não são de Flávio, são de Jair: ou não haveria um cheque do Queiroz na conta da primeirada­ma. Os tuítes de Carlos podem parar a qualquer momento se Bolsonaro mudar sua senha, mas o presidente quer alguém brigando com generais e perseguind­o jornalista­s no lugar dele. Da mesma forma, o radicalism­o de Eduardo é encomendad­o pelo pai, que também quer um movimento de extrema direita forte.

É crise para meses. Bolsonaro pode fundar um novo partido e/ou recorrer ao Judiciário para que seu grupo no PSL possa sair levando seus mandatos. Todo mundo ali sabe o que o outro fez no verão passado.

Muita coisa pode resultar disso tudo: crise, golpe, estagnação, um clima crescente de esculhamba­ção geral.

O que vai dar trabalho para tirar disso tudo é um governo funcional. Dessa vez vai ter “pacto pelo Brasil”, como o que Maia, Alcolumbre e Toffoli costuraram na crise institucio­nal passada? | dom. Elio Gaspari, Janio de Freitas | seg. Celso Rocha de Barros | ter. Joel Pinheiro da Fonseca | qua. Elio Gaspari | qui. Fernando Schüler | sex. Reinaldo Azevedo | sáb. Demétrio Magnoli

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