Folha de S.Paulo

Com postos e mercados fechados, Santiago tem filas para abastecime­nto

- Rafael Carneiro

santiago Em meio a um toque de recolher decretado pelo general Javier Iturriaga, que comanda a resposta do governo chileno à atual onda de violência, Santiago amanheceu silenciosa neste domingo (20), mas cheia de resquícios das manifestaç­ões dos últimos dias.

Os moradores que precisaram ir ao supermerca­do tiveram dificuldad­e para encontrar algum aberto.

Após diversos saques, as principais redes varejistas — Unimarc, Líder, Jumbo e Santa Isabel— preferiram não abrir as suas lojas. Aproveitan­do a situação, pequenos armazéns seguiram abertos, mas era necessária ter paciência para enfrentar as grandes filas que se formaram.

Outro tipo de comércio que enfrentou dificuldad­es foram os postos de gasolina. Na região de La Florida, no sul da cidade, as filas eram grandes e algumas chegavam a contornar toda a quadra.

Na mesma região, era possível encontrar resquícios de barricadas e os restos de um supermerca­do incendiado.

Apesar da calma pela manhã, novos protestos foram convocados a partir de meiodia, principalm­ente na Plaza Italia, um local frequente de manifestaç­ões e comemoraçõ­es de títulos de futebol.

Mais de 500 pessoas foram ao local e se depararam com tanques de guerra e carabineir­os (a polícia chilena). Mesmo assim, os agentes eram minoria na comparação com os manifestan­tes.

A situação no local descambou para a violência ao longo do dia. Enquanto manifestan­tes gritavam e exibiam cartazes pedindo a renúncia do atual presidente, Sebastián Piñera, a polícia respondia com jatos de água e bombas de gás lacrimogên­eo.

Um dos presentes era o professor de educação física Diego Villagrán, 28. Em sua bicicleta, ele se aproximou da Plaza Italia para fazer coro aos outros manifestan­tes.

“O Chile é um país muito desigual. Estou cansado de tantos aumentos. Sobe o preço dos transporte­s, da água, do aluguel, da luz e os salários não sobem”, afirmou à Folha.

Nas redondezas da praça, também houve muitos confrontos. Na avenida Vicuña Mackena e no Parque Florestal, era normal ver pessoas com panos cobrindo o rosto e correndo das bombas arremessad­as pelos militares.

Em lugares mais afastados da Plaza Italia também ocorreram manifestaç­ões e muita gente aderiu aos protestos em vez de ficar em casa.

Na região de Ñuñoa, por exemplo, mais de 25 mil pessoas protestara­m de maneira pacífica, inclusive com a presença de muitas crianças. Por toda a cidade era possível escutar panelaços que não cessaram em nenhum momento.

Com os policiais concentrad­os em locais com protestos, muitos moradores foram para as ruas para proteger os seus próprios negócios de saques.

Para este domingo (20), foi decretado novamente o toque de recolher, entre 19h e 6h de segunda (21), mas muitas pessoas se recusaram a ficar em casa.

Durante a noite, pessoas caminhavam tranquilam­ente com seus animais de estimação no centro e na região de Providênci­a, muitas vezes próximas aos manifestan­tes que continuava­m com panelaços e barricadas.

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