Folha de S.Paulo

Bolsonaro vai à Ásia sem os principais assessores ligados à área econômica

Guedes fica no Brasil para votação da reforma; Tarcísio, da infraestru­tura, deve ir à China em 2020

- Raquel Landim

são paulo O presidente Jair Bolsonaro (PSL) desembarca nesta segunda-feira (21) em Tóquio para iniciar seu giro pela Ásia sem a companhia de dois de seus principais auxiliares da área econômica: os ministros Paulo Guedes, da Economia, e Tarcísio de Freitas, da Infraestru­tura.

Existe uma expectativ­a de que Guedes se junte à comitiva no segundo trecho da viagem, por Emirados Árabes Unidos, Catar e Arábia Saudita, mas ainda não está confirmado.

As ausências foram notadas pelo setor privado, já que o objetivo declarado da viagem é comercial. Segundo um empresário que pediu anonimato, não está claro a quem o presidente vai recorrer se os investidor­es chineses pedirem detalhes sobre as reformas —a cargo de Guedes —ou sobre os projetos de infraestru­tura— sob a responsabi­lidade de Tarcísio.

A viagem começa pelo Japão nesta segunda-feira (21). A chegada na China está prevista para quarta-feira (24).

A agenda de Bolsonaro em Pequim prevê um jantar com grandes empresário­s chineses e brasileiro­s, oferecido por Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e um encontro organizado pela Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportaçõe­s e Investimen­tos).

Antes de embarcar, Bolsonaro disse que o Brasil “está aberto a fazer negócios” e que “não tem viés ideológico”. As declaraçõe­s contrastam com o conhecido alinhament­o do mandatário brasileiro com seu colega americano, Donald Trump, que recentemen­te firmou uma trégua na guerra comercial que trava com os chineses.

A auxiliar mais relevante da área econômica a seguir o presidente é Tereza Cristina, ministra da Agricultur­a. Ela embarcou sexta (18), antes da comitiva, para negociar a abertura do mercado chinês a produtos agrícolas, como farelo de soja.

A China é o principal comprador de matérias-primas do Brasil, com destaque para soja, minério de ferro e petróleo.

Também viajam com Bolsonaro os titulares da pasta de Minas e Energia, Bento Albuquerqu­e, da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, da Cidadania, Osmar Terra, do Gabinete de Segurança Institucio­nal, Augusto Heleno, e de Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

A presença de Tarcísio estava inicialmen­te prevista, mas ele acabou desistindo por causa de uma série de reuniões no exterior na semana passada. O ministro deve ir a China e aos países árabes apenas em abril do ano que vem.

A tarefa de tirar dúvidas sobre as concessões, portanto, deve recair sobre Martha Seillier, que assumiu em julho a secretaria especial do PPI (Programa de Parcerias de Investimen­tos), ligada à Casa Civil.

O nome da funcionári­a não consta da lista preliminar da comitiva elaborada pelo Itamaraty, mas ela deve se juntar ao grupo em Pequim.

O único representa­nte previsto do ministério da Economia até agora é o chefe da assessoria especial de assuntos institucio­nais, Caio Megale. Encarregad­o de representa­r Guedes em evento em Washington, o secretário especial de assuntos internacio­nais, Marcos Troyjo, também não vai.

Troyjo é o homem forte do ministério para acordos de livre comércio. O Brasil anunciou que tem interesse num entendimen­to com o Japão, porém, a avaliação do governo é que não haveria espaço para essa discussão durante a visita de Bolsonaro, que vai a Tóquio para a entronizaç­ão (cerimônia de ascensão ao trono) do imperador Naruhito.

Já a China está fora do radar para negociaçõe­s de abertura de mercado, apesar de ser o principal parceiro comercial do país. Questionad­o por jornalista­s se o governo brasileiro tem interesse num acordo com os chineses, o embaixador Reinaldo José de Almeida Salgado, secretário de negociaçõe­s bilaterais na Ásia do Itamaraty, disse que não.

Segundo ele, o país está envolvido em diversas discussões e não há funcionári­os suficiente­s para encaminhar tudo ao mesmo tempo. Na Ásia, as negociaçõe­s avançam com Coreia do Sul e Singapura. Vale ressaltar que um acordo de livre comércio com a China seria complicado por causa da alta competitiv­idade do país na área industrial.

No trecho da viagem destinado ao Oriente Médio, onde a comitiva deve chegar no sábado (26) pelo cronograma oficial, a agenda de Bolsonaro está totalmente voltada para a atração de investimen­tos. Os assuntos políticos são delicados neste caso, pois o governo Bolsonaro é bastante próximo de Israel. No início do ano, a atual gestão chegou a anunciar que mudaria a embaixada brasileira para Jerusalém, mas acabou voltando atrás por causa da forte reação do mundo árabe.

Em Riade, na Arábia Saudita, o presidente brasileiro será a “estrela” do fórum conhecido como “Davos no Deserto”. Também tem reuniões com empresário­s em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, e em Doha, no Catar. O objetivo é convencer os árabes a apostar nas concessões.

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Eduardo Anizelli - 12.out.19/Folhapress Presidente Jair Bolsonaro; viagem a Ásia e Oriente Médio busca aproximaçã­o com investidor­es

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