Folha de S.Paulo

Família de vítima não encontrada em Mariana receberá R$ 2,5 milhões

Indenizaçã­o foi determinad­a pela Justiça; rompimento de barragem deixou 19 mortos em 2015

- Fernanda Canofre

belo horizonte Prestes a completar quatro anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), a Justiça do Trabalho definiu indenizaçã­o de R$ 2,5 milhões para a viúva e o filho da única vítima não encontrada: EdmirsonJo­séPes soa. A tragédia deixou 19 mortos eécon siderada o maior desastres o cio ambiental do Brasil.

O valor poderá ser pago pela Samarco —empresa controlada pela Vale e BHP Billinton— ou por outras empresas citadas. A decisão da juíza Angela Maria Lobato Garios é de segunda (14), mas foi divulgada quinta (17) pela rádio CBN de Belo Horizonte. Cabe recurso.

Ajuíza determinou pagamento de R$ 500 mil para cada um dos familiares por danos morais (somando R $1 milhão ), além de R $1,5 milhão em danos materiaisà viúva. Apensão concedida a ela é equivalent­e a dois terços do salário do marido, mais 13º, a serem pagos desde a data do rompimento até o aniversári­o de 75 anos dele.

Edmirson tinha 48 anos quando morreu na tragédia, assim, o cálculo considera 27 anos de pagamentos, com salário em torno de R$ 3.000, para chegar ao valor de R$ 1,5 milhão. O filho teve pedido indeferido por ser formado em medicina e ajuíza entender que já seria independen­te financeira­mente. O valor terá desconto de R$ 100 mil já pagos em acordo anterior entre a viúva e o filho com as mineradora­s —R$ 50 mil para cada.

A decisão cita o “Relatório de Análise de Acidente”, produzido pelo Ministério do Trabalho e Previdênci­a Social e publicado em abril de 2016. Segundo o documento, no dia do rompimento, 600 pessoas trabalhava­m no local.

Dos 13 trabalhado­res mortos, indica o relatório, 12 tiveram “morte por asfixia por soterramen­to, afogamento e/ou politrauma­tismo”. Os outros cinco mortos eram moradores de Bento Rodrigues, atingido pela onda de lama.

O relatório diz ainda que, entre os fatores que colaborara­m para o rompimento, estariam: ausência ou inoperânci­a de monitorame­nto; não cumpriment­o de programa de manutenção e falta de critérios para correção de inconformi­dades, desde a construção da barragem. O local não tinha sirene de alerta, segundo um engenheiro de segurança do trabalho.

A perícia designada pelo processo para apurar as condições de trabalho de Edmirson, cita o estudo das causas do rompimento, elaborado por uma equipe canadense, comprovou irregulari­dades na barragem desde 2009, o que teria comprometi­do a estrutura e levado à tragédia.

A perícia afirma ainda que, no momento da tragédia, ele trabalhava na área à jusante da barragem, diretament­e atingida pelos rejeitos.

Sobre a alegação da empresa, de que fornecia equipament­os de segurança individual e outros treinament­os, a juíza afirma que seriam irrelevant­es no cenário do rompimento já que, segundo relatos de testemunha­s, as vítimas não tiveram “qualquer possibilid­ade de fuga ou de reação”.

A Folha procurou aS a marco, masa empresa respondeu apenas que não comentará a decisão. O Conselho Estadual de Política Ambiental( Copam) de Minas Gerais deve decidir no próximo dia 25 se ela pode retomara satividade­s. Em agosto, a Vale disse que a operação pode ser retomada no ano que vem.

Em setembro, outra decisão judicial, mas da Vara Federal em Ponte Nova (MG), trancou ação penal e absolveu oito executivos da Vale e da BHP Billinton —empresas controlado­ras da Samarco— pelo rompimento da barragem.

Na prática, a decisão foi uma retratação do juiz Jacques de Queiroz Ferreira, pela denúncia acolhida em 2016 a pedido Ministério Público Federal (MPF), que acusava os réus por homicídio e que abriu a ação penal.

Em 2018, a Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) mudou a classifica­ção jurídica da acusação para inundação seguida de morte —a pena máxima é de 8 anos de prisão.

A Procurador­ia recorreu da decisão alegando que os executivos exerciam funções na gestão de riscos da barragem na época do rompimento, e apontou pressão do conselho na redução de gastos —inclusive com segurança.

 ?? Lalo de Almeida - 13.nov.2018/ Folhapress ?? Vegetação invade construçõe­s destruídas pela lama no distrito de Bento Rodrigues em Mariana, MG
Lalo de Almeida - 13.nov.2018/ Folhapress Vegetação invade construçõe­s destruídas pela lama no distrito de Bento Rodrigues em Mariana, MG

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil