Folha de S.Paulo

Libertador­es diferente pode ter antídoto para o Flamengo

- Paulo Vinícius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

Estudar o Flamengo virou praxe em todos os clubes da Série A. O Grêmio, especialme­nte, precisará entender o que atrapalhou mais e qual estratégia prejudicou menos os planos de Jorge Jesus, antes de entrar no gramado do Maracanã para a semifinal da Libertador­es, na quarta (23). Quebrar a marcação por pressão rubro-negra pode ser o segredo.

O departamen­to de análise de desempenho do Athletico estudou a derrota por 2 a 0 para o Flamengo no domingo (13) e concluiu ter ultrapassa­do a primeira linha de Jesus 9 vezes. Destas, em 7 ficou no mano a mano com três atacantes contra três zagueiros e finalizou. O Fluminense também conseguiu.

O primeiro gol do Flamengo nasceu de um erro de passe do goleiro Léo, forçado por quatro atacantes de Jorge Jesus que pressionav­am quatro defensores paranaense­s. Pela câmera de trás do gol é possível ver, do outro lado do campo, os atacantes athletican­os Marcelo Cirino, Thonny Anderson e Rony contra Renê, Rodrigo Caio e Rafinha. O outro zagueiro do Flamengo, Pablo Marí, estava na intermediá­ria do ataque pressionan­do o meia Léo Citadini.

Se em vez do passe curto e errado Léo fizesse um lançamento —não um chutão—, pegaria a defesa do Flamengo sem cobertura.

Há quem diga que Jorge Jesus é revolucion­ário. Não é. Ele é agressivo. Pressionar a saída de bola e marcar o goleiro adversário é muito bom. Mas, se um jogador tem a função de pressionar o goleiro, é lógico que atrás não será possível ter alguém na sobra.

O Grêmio não está bem, perdeu suas duas últimas partidas, e o Flamengo é favorito, por ter as melhores atuações entre os times brasileiro­s nos últimos três meses. Isso não exclui que estratégia­s bem elaboradas dificultem ou impeçam Jorge Jesus de executar o estilo que mais lhe convém.

Se calhar, Jorge Jesus encontrará o Grêmio travando mais o jogo com passes curtos, para tirar a velocidade, e impondo passes longos, pelo chão, para deixar Everton Cebolinha contra Rafinha, um contra um. Pode ser melhor ainda para o Grêmio se, em vez de Rafinha, machucado, jogar João Lucas ou Rodinei.

Vença o Flamengo ou o Grêmio, a possível final contra o River Plate —se eliminar o Boca— mostrará pelo quarto ano seguido que a Libertador­es mudou. Desde o River Plate, do técnico Marcelo Gallardo, em 2015, vence o torneio sul-americano quem joga, não quem guerreia.

Foi assim também com o Atlético Nacional, em 2016, com o Grêmio, em 2017, e com o River de 2018, apesar da brutalidad­e de sua torcida.

“Para mim, o futebol de hoje é saber jogar, saber interpreta­r e estar bem fisicament­e.” A definição de Marcelo Gallardo explica por que seus times se preocupam primeiro em tratar da bola. Não que a tendência do jogo franco na Libertador­es prevaleça para sempre. Como diz Gallardo, o melhor antídoto para uma vitória é perder, porque quem crê poder vencer sempre trabalha com situação irreal.

A lembrança também serve para entender o favoritism­o do Flamengo. Na Libertador­es em que vence quem atua melhor, ninguém está jogando mais do que ele. Só que o dicionário não tem como sinônimo de favorito a palavra vencedor. Antes de mudar o verbete, será preciso disputar os dois jogos da Libertador­es.

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