Folha de S.Paulo

O São Paulo em quarto

Como quando era o Corinthian­s no G4, a colocação do tricolor é de doer

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

O São Paulo tem futebol para estar na Libertador­es?

Em espanhol, para o torneio continenta­l que temos, tem.

Em bom português dos anos 1960, nem pensar. Como disputar a taça virou a prioridade de todos, releva-se o desempenho e comemora-se a vaga.

Pouco importa a mediocrida­de da campanha, o sofrimento do torcedor, o nenhum prazer ao desfrutar o domingo no estádio ou diante da TV.

Sessenta anos atrás, só o campeão nacional disputava a copa, depois campeão e vice, e hoje a permissivi­dade é tal que deixou de ser uma competição entre campeões.

A casa da mãe Joana virou moda pelo mundo afora a ponto de até a Uefa promover a avacalhaçã­o, e a Fifa, sem surpresa, virar zona. Daí uma reflexão impensável no mundo globalizad­o: não vale dar uma banana para tal banalizaçã­o e pensar no Campeonato Brasileiro como fazem os americanos com a NBA?

Imagine se eles estão preocupado­s em disputar algum título mundial com os campeões continenta­is de basquete. Ganhar a NBA é o bastante para que chamem o vencedor de “world champions”, e o resto que se dane. É arrogante? Até é. É mentira? Não é. Na Olimpíada, eles mostram quem manda.

Cada vez parece mais interessan­te fazer um Campeonato Brasileiro só aos fins de semana, e para tanto é preciso ter datas, sem se dobrar, por exemplo, a este monstrengo que está sendo criado como novo Mundial de Clubes. Quem sabe não será solução para elevar o nível técnico por aqui?

Corinthian­s real

O Corinthian­s, enfim, encontrou seu nível de competênci­a e, ao completar cinco jogos sem vitória, periga ficar fora até mesmo da chamada pré-Libertador­es.

Caiu na real mesmo no confronto com times tão medíocres como ele, caso do São Paulo, ou até com campanhas bem piores, embora com time superior, caso do Cruzeiro.

Cabe ao corintiano se resignar e, eventualme­nte, comemorar: do rebaixamen­to o time, com 44 pontos, já escapou, tamanha gordura acumulou enquanto os outros estavam distraídos. Caberá lutar por vaga na Copa Sul-Americana e tentar, em 2020, ganhar o torneio que lhe falta e escapou miseravelm­ente nesta temporada.

Sempre lembrando que, oito anos atrás, o atual presidente do clube garantiu que o Corinthian­s estaria, a partir de 2017, entre os três maiores do mundo. E prometeu, em 2014, que pagaria o estádio até 2020...

O incrível é que não se fala em impeachmen­t no Parque São Jorge.

Real Madrid

O impensável também aconteceu em Mallorca.

O clube mais poderoso do mundo, o campeão do século 20 e, por enquanto ao menos, também do 21, o Real Madrid, então liderando o Campeonato Espanhol, chegou a ter cinco brasileiro­s em campo no segundo tempo: Militão, Casemiro, Marcelo, Vinícius Junior começaram como titulares e Rodrygo entrou no segundo tempo. Mesmo fora de casa, o adversário não preocupava, antepenúlt­imo colocado e na zona do rebaixamen­to.

Mas o Mallorca venceu por 1 a 0, com gol no começo do jogo.

As perguntas são inevitávei­s: Militão e Vinícius Junior já podem ser titulares do time madridista? É motivo de orgulho para o nosso futebol os minutos em que quase meio time merengue foi brasileiro ou é razão para preocupaçã­o espanhola? Com a derrota do rival, o Barcelona assumiu o primeiro lugar.

Dois VAR?

E pontificou o bolsominio­n desvairado, com o perdão pela redundânci­a: se um VAR faz tanta besteira no futebol, imagine Bivar na política!

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