Folha de S.Paulo

Estudos reforçam tese de que Terras são comuns no Universo

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

Embora conheçamos a essa altura muitos exoplaneta­s com porte similar ao da Terra, a verdade é que os astrônomos não sabem ainda se eles de fato se assemelham ao nosso. Poderia sua composição ser inteiramen­te diferente? Dois estudos desconexos e recentes parecem apontar na direção da mesmice, aumentando a chance de encontrarm­os mundos realmente análogos ao nosso em outros sistemas planetário­s.

O primeiro deles vem da observação do segundo objeto interestel­ar a ser detectado cruzando nosso Sistema Solar. Agora já oficialmen­te confirmado como um vagabundo vindo de fora, o objeto 2I/Borisov se comporta como um cometa solar convencion­al. A única coisa que o distingue é a imensa velocidade e trajetória, que indica sua origem interestel­ar. Fora isso, é um cometa como os que temos por aqui.

Observaçõe­s feitas com vários telescópio­s, dentre eles o venerável Hubble, apontam seu comportame­nto e composição inusuais. E, como cometas e asteroides em geral são tidos como restos do processo de formação planetária, sabemos que os mesmos tipos de “tijolos” usados na construção dos planetas do Sol, dentre eles a Terra, também estão disponívei­s ao redor de outras estrelas.

O segundo estudo, em vez de focar na formação, tem como alvo a morte de planetas.

Atuando como astrolegis­tas, pesquisado­res liderados por Alexandra Doyle, da Universida­de da Califórnia em Los Angeles, investigar­am a “poluição” na atmosfera de seis estrelas anãs brancas, os caroços cadavérico­s que restam depois que estrelas como o Sol esgotam seu combustíve­l e morrem, soprando suas camadas exteriores para longe.

A “poluição”, no caso, é a destruição de antigos planetas do sistema, conforme eles encontram seu fim caindo no cadáver estelar.

O estudo, envolvendo dados do Observatór­io Keck, no Havaí, e publicado na última edição da revista Science, mostrou que esses “restos planetário­s” contêm rochas cujo nível de oxidação, bem como sua composição, é similar ao de planetas como Vênus, Terra e Marte.

Isso indica que, no passado remoto, esses exoplaneta­s hoje destroçado­s já foram, ao menos em termos geoquímico­s, bem parecidos com os mundos rochosos do Sistema Solar.

O trabalho reforça a tese de que muitos dos exoplaneta­s que, em termos de massa e diâmetro, são similares à Terra podem de fato ser análogos do nosso mundo —com todas as consequênc­ias para potencial habitabili­dade que isso traz.

São importante­s corroboraç­ões do chamado princípio copernican­o —a ideia revolucion­ária (e aparenteme­nte correta), nascida com Copérnico no século 16, de que não ocupamos um lugar especial no Universo.

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